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Amizades femininas: quando a amizade (também) é outra coisa

“There are not many relationships more powerful than that of two women who fall fast and deep into a friendship.”
– Mindy Kaling

O tema das amizades femininas é algo que me fascina já há alguns anos. Para mim, as nossas relações rivalizam, em termos de complexidade, com a da neurocirurgia ou da matemática aplicada. Bem sei que, por norma, é o amor que despoleta mais textos, livros, ensaios e até estudos científicos, mas para mim a génese das amizades femininas é bem mais misteriosa.

Podem negar se assim desejarem, mas o facto é que se é verdade que num momento somos as melhores amigas para sempre cheias de Girl Power e sisters before misters, também é verdade que momentos depois tudo se pode desmoronar com a mesma facilidade com que dizemos girls night. Não vou, de forma alguma, desfazer das amizades femininas (adora as minhas amigas, ok?), só estou a comentar o facto de serem tão boas como são frágeis.

Mas para além das nossas amigas do coração existem aquelas que vamos fazendo durante a nossa vida adulta. E isso, amigas, é ainda mais complicado de gerir.
As amizades femininas que se fazem durante a vida adulta – tenho vindo a descobrir – assemelham-se assustadoramente a relações amorosas, mas sem a parte física. Com a excepção do envolvimento físico, o resto está lá: a dança do “mando-lhe mensagem ou espero que ela me mande?” e do “será que ela gosta de mim?”

Estarei maluca? É que eu lembro-me de um tempo em que isto era bem mais fácil e que consistia em planear coreografias ao som das Spice Girls e de dormidas em casa umas das outras. Será que o auge da amizade feminina se dá algures entre os 9 e os 16 anos?

Pode parecer estranho, mas hoje em dia estou rodeada de pessoas – mulheres – que ainda não percebi se são ou não minhas amigas. Mais uma vez, entra a dança típica das relações amorosas (“somos ou não somos namorados?”), mas aqui a pergunta é “afinal, somos ou não amigas?”. A resposta não é assim tão simples, pois a linha que separa uma conhecida de uma amiga com a qual se estabelece uma amizade já em adulta pode ser bastante ténue.

Há aquelas “amigas” (o uso das aspas serve mesmo para enfatizar a dúvida do “somos ou não somos”) que te convidam para imensas coisas que ficam no ar, “depois marcamos”, dizem elas. E tu ficas na dúvida se deves dizer-lhe alguma coisa ou se é suposto serem elas a dizer-te. O que depois acontece é que, com jeitinho, nunca mais se vêem na vida.

Há as “amigas” que, mal as conheces, já quase te chamam de “BFF” e que fazem mil planos contigo, de coisas que vão fazer juntas e de sítios que vão visitar, mas que quando precisas dela é como se nem te conhecesse. É daquelas pessoas que te promete ajuda mesmo sem tu pedires, mas quando precisas mesmo dessa ajuda e lhe perguntas se sempre te pode ajudar, ela faz uma cara de “hmm… não sei se vai dar, não estou com muito tempo agora”. Quem é teu amigo e quem quer estar contigo (aqui é válido também para as relações amorosas), arranja tempo para estar contigo porque a alternativa (não te ver) custa-lhe bem mais do que alterar os planos.

E depois há ainda aquelas “amigas” pelas quais te “apaixonasteà primeira vista (e elas por ti) e que tudo com elas é tão fácil, quase como quando tínhamos 9 anos, excepto na parte em que não queremos mostrar-nos mais interessadas nelas do que elas em nós. Não sei como explicar melhor o sentimento que aparece quando conhecemos alguém que parece ser a nossa cara-metade feminina senão com uma comparação com o acto de nos apaixonarmos. Sim, acho mesmo que é isso. Apaixonamos-nos por outra mulher, por uma potencial amiga, mas de uma forma diferente da que acontece com um parceiro/a numa potencial relação amorosa. Passamos também por uma fase de corte e de dates. As semelhanças são imensas…
Isto aconteceu-me no ano passado e foi uma coisa curiosa. A amizade feminina é, de facto, curiosa. Já praticamente não falamos, porque não passámos a fase da cimentação da amizade, uma vez que ela foi viver para fora, mas foi bom enquanto durou.

Um dia depois de um belo passeio cultural, demos por nós a beber sidra a olhar para a paisagem onde se via o pôr-do-sol, a falar de sonhos, de medos e de inspirações. Lembro-me de sentir que aquele era um momento-chave de algo e de me sentir completamente relaxada e confortável e aí soube: a amizade é isto; a amizade devia ser sempre assim tão simples. A amizade é o conforto, o estar ali mas não estar a pensar em estar em mais lado nenhum naquele momento. É ouvir e fazer perguntas genuinamente interessadas e não só porque fica bem e é de boa educação fazê-las.

Não é propriamente um retrato de amizade feminina, mas o momento ao pôr-do-sol a beber sidra lembrou-me esta icónica cena do Trainspotting

A amizade não é estares com alguém e não parares de pensar noutra coisa melhor que tinhas que fazer. Não é estar a pensar na roupa que tens que escolher para amanhã ou no que vais jantar quando chegares a casa. A amizade não é prometeres ajuda e depois não a quereres dar quando te é pedida, nem é pedi-la e ser negado.
A amizade – tal como o amor, como diz a Helena nas suas crónicas – é outra coisa.

Neste aspecto, a amizade feminina não é assim tão diferente da masculina: às vezes não são precisas grandes conversas, grandes dramas, grandes partilhas de segredos. Às vezes só queremos estar com alguém a beber umas jolas (ou sidras, neste caso) a ver o pôr do sol e a partilhar um agradável momento de palavras ou mesmo de silêncios confortáveis.

It’s hard when you’re an adult woman, because for the most part, people are more focused on finding their romantic mate, but I’ve found in the past four years that I’ve wanted a female friend so much more. It’s much harder to find someone that you like, wanna talk to, than it is to find a man you wanna sleep with.

– Mindy Kaling

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11 Comments

  • Reply
    Joana Sousa
    23/03/2017 at 12:43 PM

    Gostei mesmo de te ler. Embora tenha uma visão um bocadinho diferente: tenho muito poucas, mesmo muito poucas amigas “para tudo”. Por norma há um contexto. E eu acho que quando és adulta é bem mais fácil! As minhas amigas “para tudo” são pessoas com quem eu, em fase adulta, me identifico, partilho gostos, partilho interesses, e nem preciso de falar com elas constantemente para saber que estão lá sempre que for preciso. Já quando era adolescente a coisa era bem mais complicada! Acredito que é tudo relacionado com a nossa maturidade emocional 🙂 mas honestamente, não me faz muita confusão a ideia de ter pessoas com quem simplesmente estás bem e te sentes bem, mesmo que não lhes confies tudo na tua vida. Devemos dar e tirar o melhor de nós e de cada pessoa que nos rodeia para vivermos todos em harmonia – at least that’s how I think :p

    • Reply
      joan of july
      23/03/2017 at 12:50 PM

      Obrigada, Jiji. 🙂
      Não me faz confusão – se calhar não me expliquei bem – estar com pessoas a fazer o que quer que seja minimamente divertido e cultural. O que me custa é as pessoas agirem como se fossem algo que depois não são. Não gosto muito de coisas indefinidas ou de coisas que se disfarçam de algo que não são, é mais por aí. 🙂
      Há pessoas com quem passo bons momentos, mas que não são exactamente minhas amigas (podem vir a ser, claro) e não me sinto minimamente estranha com isso.

  • Reply
    Ana
    23/03/2017 at 2:13 PM

    É tão isto que eu sinto e não conseguia exteriorizar! Parece que entraste na minha mente e te puseste a arrumar tudo. Só tenho vontade de mandar isto para todas as caixas de correio das minhas relações pois as pessoas (nós) esquecemos isto muitas vezes! Até demais!
    Adorei!

    • Reply
      joan of july
      23/03/2017 at 2:43 PM

      Fico contente por saber que consegui deitar cá para fora algo em que também estavas a pensar! Também é bom para mim porque significa que não estou maluquinha. 😛
      Muito obrigada, Ana! Beijinho*

  • Reply
    Daniela Soares
    23/03/2017 at 3:39 PM

    Adorei o texto Catarina e concordo contigo quando dizes que às vezes é uma espécie de paixão e que estas amizades por vezes são tão boas quanto frágeis. Acho que nós por vezes complicamos mais do que os homens, mas se for “a pessoa certa” então conseguimos isso. Por vezes é mesmo só um passeio ou uma conversa sobre nada e já nos sentimos melhor!

    Another Lovely Blog!, http://letrad.blogspot.pt/

    • Reply
      joan of july
      23/03/2017 at 3:49 PM

      A essência é mesmo essa, Daniela. 🙂 Quanto mais verdadeira, menos complicada, não é? 😀

  • Reply
    Marta Chan
    23/03/2017 at 9:38 PM

    O meu dilema dos últimos tempos! Quando estava a viajar sabia perfeitamente quem eram os meus amigos, aqueles que voltava ao algarve e diziam estás perdoada com uma mini e um pires de tremoços na mão. Até que vim para Lisboa e fiquei à nora. Contactei umas vinte amigas do algarve que estavam a morar em Lisboa e só quatro ou cinco me responderam. Destas quatro ou cinco só duas amigas é que efetivamente foram tomar café comigo e mantivemos o contacto. Será que custa assim tanto responder a uma mensagem? Claro que os nossos caminhos dispersaram mas custava muito mostrar a cidade ou tomar um café de uma hora para dar umas dicas a uma pessoa que nunca tinha vivido numa cidade tão grande? Rapidamente a desilusão apoderou se do meu coração. Passados uns dias pensei, caraças estas miúdas não passam de conhecidas.
    Depois de ano e meio consegui formar algumas amizades, aquelas que sabes que podes desabafar e que terão uma palavra amiga para retribuir. Percebi que as amigas das saídas São conhecidas e que algumas meninas que julgava serem minhas amigas consideravam me conhecidas, então passei a fazer o mesmo porque isto muda tudo. Se antes toda a gente era amiga e sorrisos para aqui, flores para lá, hoje em dia faço a distinção e sofro menos, pois já sei o que esperar de determinada pessoa.
    Depois há meninas bloggers brutais, que embora nos conheçamos há um par de anos considero minhas amigas, que até hoje são a minha salvação com os transportes e cenas em Lisboa =) São pessoas que vejo esporadicamente mas quando estamos juntas é sempre uma animação, são pessoas que te apoiam e ouvem, que têm conselhos para oferecer em troco de nada, que partilham a sua vida e que quando chegas a casa sentes uma enorme gratidão por estas miúdas estarem na tua vida. Para mim é isto a amizade.

    E sim Cat, tenho esse sentimento de paixoneta com amigas, e sabe tão bem! Se nos deixarmos levar demais podemos até ter ciumes dos namorados que passam mais tempo com elas, o que é estranho. Mas se for tudo com doses equilibradas pode ser um amor tão bonito, mesmo que saibas que não será para sempre.

    Ok, ficava a falar nisto muito mais, é impressionante como os teus posts deixam me assim a querer partilhar mais e mais. Já agora, como Amiga com A maiúsculo respondo te amanhã ao email =D

    • Reply
      joan of july
      23/03/2017 at 10:18 PM

      Contaste-me isso há pouco tempo, de teres amigas que não combinaram nada contigo quando vieste para Lisboa e fiquei triste por isso. Eu cá fiquei feliz quando vieste para cá, tem sido uma animação! 😀
      É uma desilusão muito grande quando nos apercebemos que alguém não nutre por nós o mesmo carinho que nutrimos por ela. Ficamos meio de coração partido.

      “[…] são pessoas que te apoiam e ouvem, que têm conselhos para oferecer em troco de nada, que partilham a sua vida e que quando chegas a casa sentes uma enorme gratidão por estas miúdas estarem na tua vida. Para mim é isto a amizade.” –> É tão, mas tão isto, Marta! Felizmente também tenho a sorte de sentir isso em relação a algumas amigas. É tão bom! 😀 São as que valem a pena manter por perto. Pessoas que estão aqui para nós como nós estamos para elas, pessoas que nos inspiram e nos fazem querer ser melhores enquanto pessoas. Isso sim vale a pena.

      Conservo amizades antigas (outras ficaram pelo caminho), mas também tenho muito a agradecer a estas modernices dos blogs por ter conhecido pessoas incríveis e que tenho o prazer de chamar de amigas com A, como tu dizes. E como tu, já agora. 😀

      E obrigada, Martinha, o teu contributo é super importante e vai ser muito especial para o que vem aí! Estou quase quase quase a acabar! :)***

  • Reply
    Sofia
    24/03/2017 at 1:17 PM

    Bem, Catarina, deste-me tanto em que pensar com este texto! A minha mãe está sempre a dizer que tenho poucos amigos, mas quando se fala de amigas o caso é realmente complicado! Concordo plenamente com o texto e sinto o mesmo quando dizes “hoje em dia estou rodeada de pessoas – mulheres – que ainda não percebi se são ou não minhas amigas.”
    Já tive uma “amiga” que em pouco tempo éramos quase BFF e depois arranjou namorado, deixou de “ter tempo” (porque é como dizes: quem quer arranja sempre tempo) e eu fiquei desamparada numa altura em que precisava realmente de amigos. E a verdade é que se não podes contar com alguém quando precisas, então esse alguém não é mesmo teu amigo. É uma pessoa que conheces… e se calhar nem conheces assim tão bem.

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    The Brunette's Tofu
    07/04/2017 at 12:37 PM

    Ora aqui está uma temática que paira na minha mente muitas vezes. E quando ultrapassamos fases menos boas ainda é mais fácil ficarmos sem ninguém. Por mais que meio mundo diga “os amigos estão lá para tudo”, sabemos bem que não é bem assim (ou não é nada assim?) E depois há aquelas pessoas que nos desiludem e outras que nos vão surpreendendo pela nossa jornada e há ainda aquelas que parecem aparecer por acaso e com as quais nos vamos identificando e que vão estando lá para nós. Há ainda aquelas que alinham em tudo (e gosto muito dessas confesso!) e que te dão a mão mesmo que não saibam como ajudar. E são essas que me esforço por manter na minha vida. Beijinho

  • Reply
    Os meus amigos: a grande manta de retalhos - Joan of July
    18/05/2021 at 1:14 PM

    […] Amizades femininas: quando a amizade (também) é outra coisa […]

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