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“Bela é a Noite” – o segundo texto para o CPR

Como vos contei na semana passada, criei o CPR – A Reanimação da Escrita com a minha amiga Joana para termos “desculpas” para escrever semanalmente, para nos irmos desafiando em termos de escrita e para evoluirmos a nossa capacidade criativa aplicada à mesma.
E se, na semana passada, houve um tema (ver aqui), esta semana o tema era livre, mas existia um desafio: escrever noutra época:

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E assim fiz.

Pensei em várias épocas que me fascinam, principalmente a era dos Vikings e da Inquisição (= caça às bruxas), mas no final, foi a vontade de escrever algo passado durante a Segunda Guerra Mundial que venceu.

Foi algo inesperado vindo de mim e também algo que me tirou completamente da minha comfort zone.

Quando comecei a escrever o texto desta semana, tinha na ideia fazer uma short-story, algo que não faço há anos.
Porém, terminei uma parte do texto e senti-o completo, pelo menos para este desafio do CPR.

A história continua muito para além disto e já está toda pensada, por isso, se mais tarde quiserem ler o resto, disponibilizarei um link para a short story completa. 🙂
Por enquanto, fiquem com o meu texto desta semana. Espero que gostem!

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Bela é a Noite

Desprendeu-se com cuidado do abraço adormecido de Rüdiger e levantou-se.
Não aguentava a visão da faixa vermelha do seu uniforme, nem saber que dali a horas acordaria e a veria à luz da manhã, com todos os pormenores daquele símbolo imundo. Decidiu atirar o vestido preto que usara na noite anterior para cima do uniforme, pelo menos de forma a tapar aquela monstruosidade.

O que sentia era algo indescritível aliado a um sentimento de culpa e vergonha. Por um lado, tinha feito o que lhe havia sido pedido, mas por outro… fora demasiado longe.

A missão que lhe tinha sido atribuída pela Frau Engelberg fora a de seduzir Rüdiger Eckhardt, um soldado recentemente condecorado pela sua ‘bravura em combate’, se se podia chamar bravura àquilo. Mas para os homens do Reich, Herr Eckhardt era um herói. Um herói que – encurralado pelas tropas inimigas – conseguira derrotar sozinho dezenas (“centenas”, diziam uns) de homens armados. Um herói que era a personificação de tudo o que odiava; que tinha no brilho dos olhos o reflexo das vidas que ceifara. Um herói que defendia a causa que chacinara os seus amigos sem qualquer réstia de humanidade.
Um herói que dormia ao seu lado.

Voltou a olhar para o cadeirão de onde pendia o seu vestido, cuidadosamente colocado por cima do símbolo do uniforme de Rüdiger.
Involuntariamente, deu por si a pensar para quantos homens teria sido aquela a última visão deste mundo antes de fecharem os olhos para sempre. Com alguma sorte, sim, teriam sido só homens, nenhuns deles civis.

Ficou parada um momento a olhar para ele. Tentou imaginá-lo de uniforme, com a braçadeira vermelha, de arma em riste, disparando bala atrás de bala contra outros soldados, mas as imagens recusavam-se a aparecer no seu imaginário.
No seu sono, Rüd (como o chamava) murmurou o seu nome. Não o soube porquê na altura, mas sentiu o coração apertado. Voltou a deitar-se e deixou que o abraço dele se formasse novamente.

Um carrossel de imagens ocuparam a sua mente, lembrando em segundos toda essa noite. Ainda ouvia na cabeça as notas da ‘Schön ist die Nacht’*, que dançara com ele, armada por um belo sorriso conforme lhe fora instruído, depois de Rüd a puxar por uma mão com uma declaração atipicamente juvenil de que “Esta é a minha favorita!”

“Ainda bem que gostas do escuro. Em breve será tudo o que vês”.

Repetiu esta espécie de mantra para si mesma, tentando aliviar o sentimento de culpa e adormeceu.

A causa estava acima de tudo.

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*(T.) Bela é a noite

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Espero que tenham gostado e que não deixem de espreitar os outros textos desta semana do CPR – a Reanimação da Escrita! Ainda não estão lá todos, mas até ao final do dia de amanhã, lá estarão. 🙂

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3 Comments

  • Reply
    Inês Silva
    29/10/2015 at 10:28 PM

    Adoraria qualquer época que escolhesses mas esta também me ganhou o coração, mas não há mais? xD

    • Reply
      joan of july
      30/10/2015 at 1:23 PM

      Ohh obrigada! <3
      Vai haver sim! Tenho toda uma short-story pensada em torno deste texto, mas para o CPR só escrevi este bocadinho. Vou ter mesmo que me dedicar a escrever o restante. 🙂

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