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8 In personal/ photography

Da pressão para se estar sempre feliz e da cura pela arte

Num mundo ideal nunca perderíamos o foco, a motivação ou a alegria. Nunca mundo ideal estaríamos sempre felizes e contentes e de bem com a vida. Mas este mundo, que é muita coisa, ideal não é e, por vezes, temos momentos desses. Eu tenho-os. No pico dos meus piores momentos parece-me que toda a gente nas redes sociais é um bocadinho mais perfeita e feliz do que normalmente me parece. São parvoíces, mas a nossa voz interior mais pessimista vem ao de cima quando estamos em baixo.

Quando estou nesta espiral de tristeza e de desmotivação, o meu primeiro instinto é lutar contra ela, mas horas depois percebo que não vale a pena. Isto pode parecer derrotista, mas há já vários anos atrás aprendi a dar-me tempo para fazer “o luto”. “O luto” é, para mim, um tempo dedicado a cicatrizar feridas (metaforicamente falando) ou a tentar ultrapassar um dia mau. Durante “o luto” deixo que a letargia se apodere de mim e permito-me vegetar, a ocupar os olhos e a mente de imagens que me façam esquecer um bocadinho a realidade.
Mas tenho uma regra temporal. Dependendo do tipo de situação que requer um luto, existe uma janela temporal durante a qual posso entregar-me à letargia, à inércia e à tristeza, por mais momentânea que possa ser.

foto encontrada em I Still Shoot Film

Nos meus piores momentos (que não são muitos, mas quando se dão, são a sério) esqueço-me temporariamente de quem sou, como sou e nas coisas boas que tenho e que sou e que dou aos outros também. Esqueço-me de que não sou inútil nem desamparada nem completamente desinteressante. Esqueço-me do que me faz feliz, porque durante algum tempo as coisas felizes deixam de ter lugar no meu mundo. Mas tudo isto é temporário.

Há sempre um dia em que, no meio de algo assim, acordo espontaneamente e que relembro do meu propósito, aliás, dos meus propósitos e desejos e valências. Lembro-me que parar faz bem, mas que ainda não está na hora de o fazer. Que há coisas prementes que precisam da minha atenção, mas que não posso continuar com certos ritmos, pensamentos e certas rotinas que não me fazem bem.

foto (minha) – 2003?

Desta vez foi um documentário sobre Fotografia que me fez acordar, voltar a interessar-me pelas minhas coisas e pesquisar. Houve uma espécie de epifania que me fez novamente acordar e reconhecer instintivamente aquilo de que preciso neste momento. Sim, é de acalmar, viver mais no momento, tentar stressar menos e fazer-me sofrer menos por antecipação. Não sei bem explicar como é que uma coisa levou a outra, mas naquele momento soube que queria dedicar-me mais à fotografia analógica. Preciso de ver o que já fotografei, de conhecer melhor a minha Minolta e de aprender a tirar prazer no processo demorado de fotografar “à antiga”, sem ver como ficou ou se ficou bem e preciso de aprender a revelar as minhas fotos em casa.

foto encontrada em I Still Shoot Film

Imagino isto como um processo longo, demorado e minucioso, como se se tratasse de uma sessão de meditação. Nunca fui muito dedicada à meditação, nem acho que seja a minha praia, mas uma meditação sob a forma de revelação fotográfica no meu próprio laboratório improvisado, seria algo que me daria imenso prazer e me obrigaria a parar, levar as coisas com mais calma e passar tempo de qualidade comigo mesma a fazer algo de que gosto muito. Quero muito descobrir o que já fotografei e o que captei dentro daquela caixinha mágica que, ao contrário da sua irmã digital, não nos mostra o que se passa lá dentro. Quero ver e sentir a película nas minhas mãos e rever momentos genuínos, crus e inalterados pela edição.

Descobri também que quando estamos abatidos, tristes e/ou doentes, podemos optar por não guardar os sentimentos para nós apenas, deixando que nos envenenem o espírito, mas podemos canalizá-los para a nossa arte, deixá-la falar por nós e incutir-lhe sentimentos verdadeiros que façam os “espectadores” ou receptores da nossa arte sentir algo e, talvez, perceber como nos podemos ter sentido quando a demos à luz.

foto (minha) – 2003?

É por isso que amo a fotografia e é por isso que sinto, pela primeira vez na vida, mais que uma curiosidade e um desejo, uma necessidade de me dedicar à arte lenta da fotografia analógica e da revelação.

Já agora, devia incluir esta “cura pela arte” no meu post “10 conselhos para ultrapassares um dia (muito) mau“.

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8 Comments

  • Reply
    Joana Sousa
    07/03/2017 at 9:37 AM

    Gostei de te ler 🙂 percebo essa tua necessidade de meditação via fotografia. Sinto o mesmo. É algo que gosto de fazer, fotografar quando estou em baixo. Começo em desalento, sem inspiração, e depois deixo que o mundo me leve com ele, e sabe sempre bem 🙂

  • Reply
    Sandra
    07/03/2017 at 9:59 AM

    Outro dia escrevi que quando estou a fotografar é como se estivesse em meditação. Fotografar transmite-me tranquilidade, é como se o mundo à minha volta não existisse por momentos. Deixei de fotografar com uma analógica em miúda quando recebi a minha primeira câmara digital, no entanto é impossível esquecer o entusiasmo que sentia quando ia levantar as fotografias reveladas. Por isso, acho que é uma excelente ideia retomares essa paixão antiga e deixar para trás aquilo que te “atormenta” nem que seja por momentos, o que acaba por ser libertador. Espero ver em breve os primeiros resultados! Beijinhos e um excelente dia para ti 🙂

  • Reply
    LucieLu
    07/03/2017 at 10:07 AM

    Catarina,

    Revelação analógica e meditação na mesma frase – nunca me passou pela cabeça.
    Revelei durante anos películas, no meu tempo de escola secundário e Ar.Co, e também cheguei a revelar em casa. Portanto se quiseres companhia para essas aventuras avisa. Em relação à parte da edição também é giro fazê-la com as mãos à luz do ampliador, testar uma vez… voltar a fazer…
    E o cheiro dos químicos? Não é agradável para muita gente, mas eu adoro!

  • Reply
    Rita
    07/03/2017 at 11:39 AM

    Também sou um bocado assim: quando acordo mal humorada, preciso daquele dia para estar de luto. Para estar mal, para não fazer coisas, para ficar no meu canto, para não me chatearem.

    Mas aprendi que as vezes mais vale combater esse sentimento de nos irmos abaixo: porque senão perco um dia (ou dias) quando poderia estar a aproveitar o melhor do dia!

  • Reply
    inês
    07/03/2017 at 1:00 PM

    Gostei muito de ler este post. Percebo bem o que dizes. Quando estou mais em baixo, opto por me deixar ficar chateada ou frustrada durante um período limitado de tempo. Acho que se tentarmos contrariar esses sentimentos, acabam por se acumular e fazer-nos pior. Depois de uma tarde, um dia, uma semana, seja o que for, passou e já não penso mais naquilo. As fases menos inspiradas, menos felizes, fazem parte e achei engraçado que tivesses despertado para o analógico numa fase assim. Normalmente, é um livro, um filme, ou uma ideia qualquer sobre a qual quero escrever que me devolve a inspiração. Já experimentei fotografia analógica e gostei muito. Boa sorte 🙂

  • Reply
    Joana Santos
    07/03/2017 at 10:21 PM

    Esta publicação está maravilhosa. Muitas vezes temos receio de admitir que também passamos por estes dias menos bons, em que não sabemos quem somos e em que acreditamos ser o pior que existe. Mas acho que o segredo é isso mesmo: aceitá-los e olhar para o que nos faz feliz. 🙂 E às vezes temos estas epifanias! E, sim, não é, de facto, preciso sentarmo-nos num tapete para meditar: tu encontraste a tua meditação na fotografia. No meu caso, é a escrita. Quando me sinto pouco inspirada e com aquela sensação de mau estar no coração, pego no meu caderno e escrevo. 🙂 Boa sorte nesta tua caminhada pelo mundo da fotografia!

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    Vânia Duarte
    08/03/2017 at 3:11 PM

    Dias maus, momentos maus, todos os temos e sim a maioria não os assume como o fizeste aqui mas esta é a mais pura das realidades. Tem de haver espaço para a tal letargia que falas da mesma forma que tem de haver consciência que dar-lhe espaço não significa afogarmo-nos nela. Gosto muito de fotografia analógica, gosto de ver, de apreciar e acredito que com o teu olho deves fazer fotos maravilhosas. No meu caso o exercício acaba por ser o meu elixir tanto para os momentos bons como para aqueles em que só me apetece cair e curiosamente até escrevi sobre isto na segunda-feira 🙂 um grande beijinho e venham daí essas analógicas 🙂

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    Inês Silva
    13/03/2017 at 10:57 AM

    Acho que antes tinha mais essa ”facilidade”, agora deixo-me só ficar a boiar e muitas vezes alguém me vem acordar :\

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