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Histórias de terror laborais: a Revista Y

A minha chegada ao mercado de trabalho foi tão má que pensei que eu tinha algum problema, que nunca teria sucesso e que, depois desta primeira experiência, nunca mais iria arranjar um trabalho, nem muito menos ser feliz em contexto profissional. Tenho tanto para vos contar sobre as minhas histórias mirabolantes com os meus primeiros estágios e empregos, que decidi dividir as histórias em vez de fazer um único post.
Vou então contar-vos a história da minha primeira experiência laboral.

Foi na revista Y (nome fictício) que decidi que queria fazer o meu estágio curricular da licenciatura. Naquela altura, tudo o que eu queria era ser jornalista numa revista feminina. Estava completamente deslumbrada com os filmes e as séries que consumi – talvez em demasia – em adolescente. É a única explicação que encontro para que este fosse o meu sonho nesta altura.
Podia ter recorrido à lista enorme de entidades de acolhimento de renome que o gabinete de inserção e orientação profissional da minha faculdade punha à nossa disposição, mas não… Eu tinha que inventar de meter na cabeça que ia arranjar um estágio sozinha, que ia provar-lhes que precisavam de alguém como eu e que eu tinha um talento inestimável para escrever sobre as mais variadas temáticas femininas.

A entrevista foi desafiante, a directora da revista parecia saída d’ O Diabo Veste Prada e eu, uma Anne Athaway ingénua e inexperiente, mas muito entusiasmada, lá me destaquei da outra candidata que tinha conhecido na sala de espera da revista e que não só já era licenciada, como tinha acabado de sair da Escola Superior de Comunicação Social. Eu estava no terceiro (e último) ano de uma licenciatura chamada Comunicação e Cultura…

Fui para casa com o desafio de escrever um artigo com pés e cabeça. Escrevi um artigo do qual ainda hoje me orgulho e enviei-o, esperançada.

Chamaram-me e aceitaram-me como estagiária. Ah, mas havia mais! Até me ofereceram ajudas de custos, o que na altura era uma raridade num estágio curricular.

Mas então, o que correu mal?

Oh, tanta coisa… Vamos por partes?

Fui relegada às “traseiras” da redacção

Mal cheguei à redacção, no primeiro dia de estágio, não havia num espaço de trabalho preparado para mim. Passaram-se horas; disseram-me para ocupar a secretária de uma jornalista que não estava lá naquele dia e começar a fazer pesquisa por centros de Yoga em Lisboa. Ok, sem problema. Até que ela chegou e tive que desocupar o lugar dela.

(a directora da revista Y não tinha nem um terço da pinta da Wilhelmina Slater da Ugly Betty, mas achava que era como ela)

Aí, a directora (que tinha o seu próprio escritório, longe da redacção, instruiu alguém para me acomodar (horas depois, repito) e a pessoa, coitada, sem saber bem onde me colocar, arrumou alguns livros e montou o meu posto de trabalho na “biblioteca”, uma pequena sala cheia de livros de moda atrás da redacção, onde ficaria sozinha.

“Ok, já não vou ter exactamente a experiência de redacção que idealizei, mas ao menos tenho todos estes livros para me servirem de inspiração”, pensei eu, coitada, sempre a tentar ver o lado positivo das coisas.

O primeiro artigo

Pouco tempo depois, naquele mesmo dia, a directora informou-me que eu iria escrever um artigo em conjunto com outra colega, que já lá trabalhava. Até vos posso revelar o tema: era sobre pincéis de maquilhagem. Eu nem percebia nada do assunto, mas nada que não aprendesse online ou nos livros da “minha” biblioteca/espaço de trabalho. Após a devida pesquisa, comecei a fabricar as primeiras linhas de texto da minha curta carreira como jornalista estagiária da revista Y. Escrevi o que melhor que pude e, se mo permitem dizer, o texto estavam bom! Esforcei-me tanto a escreve-lo como ao texto que fiz como parte do processo de recrutamento, o tal do qual ainda me orgulho.

Falei com a colega que supostamente ia escrever o texto dos pincéis comigo, mas ela não estava nem aí. Mal me dirigia a palavra, era mal-encarada e arrogante. Na verdade, muita gente ali o era, a começar pela directora, mas no caso dela, pobrezinha, devia ser porque tinha fome, mas isso já é outro assunto.

Fast forwarding, a directora não gostou de muita coisa do meu artigo, o que até aqui tudo bem; uma coisa era eu gostar do que tinha escrito, outra coisa bem diferente era ela aprovar e a palavra final era a dela. Fiz e refiz o texto vezes sem conta, mas nunca estava bem.

Falsas “amigas”

 

Quando fui à entrevista para a revista Y, foi-me dito pela directora que ela e os colaboradores da empresa eram todos uma grande família. Quando fui almoçar pela primeira vez com as jornalistas da revista Y, elas fartaram-se de dizer cobras e lagartos da directora. Fiquei chocada por, afinal, não serem uma grande família. Ou então eram, que isto nas famílias também não é nenhuma raridade. Pensado bem, se calhar era por isso mesmo que eram uma família…

A outra estagiária

Uma das outras jornalistas era, como eu, estagiária, mas já dois anos mais velha, já com muito mais experiência que eu e, claramente, já muito menos ingénua, porque quem trabalha ali perde a ingenuidade, a sanidade e até parte da sua bondade natural, se a havia inicialmente.

Long story short, comecei a dar-me bem com ela a partir do momento em que ela me ajudou com um problema técnico do computador. Achei-a simpática a amorosa e passei a fazer-lhe aquelas perguntas que tinha vergonha de fazer aos chefes (era miúda, dêem-me um desconto); perguntas como “a que horas devo sair?” pareciam-me proibidas de se fazer às chefias. Então perguntei-lhe e ela disse que era por volta das oito da noite.
Curiosamente, eu era sempre a última a sair àquela hora.

Até qualquer dia, revista Y!

Após a primeira semana de trabalho a sair todos os dias às oito da noite, a directora informou-me que devia lá estar no sábado, ou seja, no dia seguinte, às duas da tarde para fazermos o fecho de edição. Não sei se ela viu o pânico nos meus olhos, mas certamente deve tê-lo sentido.

Mas ali estava eu, no dia seguinte, sem saber como se iriam processar as coisas. Quando entrei no edifício da redacção, vi algumas colegas minhas a subir as escadas com sacos do supermercado e garrafas de água. Quando lhes perguntei para que era aquilo tudo, responderam-me que eram mantimentos para o fecho da edição, que iam precisar de comer e beber, porque só iríamos sair dali às três da manhã.

O pânico novamente se instalou nos meus olhos.

Mas eis que me sento na minha secretária no polo sul da redacção, isolada de tudo e todos e a directora me manda um email para que eu fosse ao escritório dela.
Assim fiz.

A minha memória dos poucos minutos seguintes é composta apenas por fragmentos, porque claramente o meu cérebro tentou selectivamente apagar esse momento, mas foi algo do género:

– Catarina, estive aqui a pensar e tu ainda tens cadeiras para fazer, andas preocupada com as coisas da faculdade e andas sempre a perguntar quando é que podes sair *, por isso se calhar o melhor é ires para casa e, mais tarde, tentamos acordar outros moldes para o teu estágio. Depois falamos.

Fiquei espantadíssima, sem reacção, a tentar não chorar à frente dela, num misto de indignação e vergonha. As lágrimas contive e orgulho-me por isso. Despedi-me educadamente, concordei que sim, que tinha que acabar as cadeiras e que o tempo lá não me possibilitava de ir às aulas. Yep, devia ter escolhido uma das entidades de acolhimento que já tinham protocolo com a minha faculdade.

O * refere-se a uma nota: nunca durante o tempo que lá estive perguntei a mais alguém para além da outra estagiária qual era a hora de saída e, mesmo a ela, só perguntei uma vez. Está claro o que aconteceu aqui, não está? Ou preciso de elaborar? Acho que não.

A cereja no topo do bolo

Um dia, encontrei a directora numa festa da Mango à qual fui com uma amiga. Ela viu-me, cumprimentou-me e disse que tínhamos que falar acerca do meu estágio “part-time” na revista Y, mas eu disse-lhe logo que já tinha encontrado outro estágio nos moldes que eu precisava para conseguir acabar o curso. Não era verdade, mas não era completamente mentira, já que estava à espera de uma resposta. E aí terminou a nossa relação.

Uns meses mais tarde, compro a nova revista Y (nem sei bem porque o fiz) e qual não é o meu espanto quando vejo o meu artigo (lembram-se do meu artigo dos pincéis) publicado ipsis verbis como eu o escrevi e assinado com o nome da outra arrogante que nem me dirigia a palavra nem contribuiu com uma palavra para o artigo?

Agora vocês!

Sim, vocês que leram este texto enorme até ao fim! Já tiveram alguma experiência deste género? Ou outras experiências laborais menos positivas? Partilhem-nas comigo! Quero muito saber. Vamos desabafar sem dizer nomes, que isso ainda nos dá um processo em cima ou assim? 😛

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19 Comments

  • Reply
    Joana Santos
    27/01/2017 at 9:29 AM

    Não pude deixar de sentir a tua dor, e de sorrir um bocadinho porque não estou sozinha neste mundo, ao ler este teu texto. Eu estudei na Escola Superior de Comunicação Social, Jornalismo, e, quando acabei o curso, e enquanto fazia umas horas num restaurante para ganhar dinheiro, tentei a todo o custo arranjar um estágio. Não foi numa revista feminina, mas foi igualmente confuso e revoltante. Entrava às 8h da manhã e saía, todos os dias, para lá das 23h. Também demoraram aquilo que me pareceu séculos a arranjar-me um espaço fixo de trabalho e nunca, mas nunca mesmo, gostavam da forma como trabalhava, embora eu me esforçasse horrores para fazer tudo direitinho. Depois de três meses penosos, lá me vi livre do pesadelo e consegui arranjar um outro estágio que correu muito melhor.

    • Reply
      joan of july
      27/01/2017 at 12:18 PM

      Olá Joana,

      Obrigada pela tua partilha!
      Sim, também sorri a ler o teu comentário; de facto, é bom saber que não estamos sozinhos, embora, por outro lado, seja mau saber que outras pessoas sofreram do mesmo e que há empregadores tão maus em mais sítios. Mas enfim. Pode ser que ao partilhar estas histórias, as pessoas que as lerem percebam que não podem nem devem aceitar tudo o que os empregadores lhes fazem. Também temos os nossos limites e exigimos respeito, afinal de contas.

      Ainda bem que depois arranjaste um estágio melhor, Joana. 🙂

      Beijinhos*

  • Reply
    Sónia Rodrigues Pinto
    27/01/2017 at 12:10 PM

    Olha, eu ainda não tive nenhuma experiência desse género, mas sinceramente deixaste-me muito assustada!
    Estou em Mestrado de Jornalismo e tenho que escolher o sítio onde quero estagiar no próximo mês. Não sei muito bem para onde quero ir, mas fiquei super nervosa só de me imaginar numa situação dessas; logo eu, que ainda por cima começo a chorar cada vez que fico irritada, irritando-me ainda mais por parecer uma bebé!
    Espero que te encontres numa situação melhor neste momento, porque não desejo isso a ninguém, ahah.
    Beijinhos!

    • Reply
      joan of july
      27/01/2017 at 12:16 PM

      Não tens que te assustar, Sónia, só tens que não te deixar rebaixar por ninguém e de não deixar de acreditar que mereces melhor, no caso de algo menos bom acontecer. Esta foi só a minha experiência, mas muitos colegas meus da altura tiveram experiências boas com os seus estágios curriculares.
      Mas olha, um conselho: aconteça o que acontecer NUNCA chores à frente de ninguém em contexto de trabalho. Vão ver-te como frágil (aka fraca) e não te vão levar a sério. Se precisares, faz como eu já fiz: vai à casa de banho, chora o que tiveres para chorar (leva corrector de olheiras para disfarçar o vermelho), acalma-te e volta ao trabalho. 😀

      Obrigada por leres e pelos votos de que eu me encontre numa melhor situação! 😀 Ahahah sim, encontro, não te preocupes. Esta foi mesmo a pior coisinha que me aconteceu, embora tenha outras histórias que vou partilhar em breve.

      Espero que encontres um bom estágio e que adores a tua experiência! Vais ver que vai correr tudo muito bem!
      Beijinho grande*

  • Reply
    Vânia
    27/01/2017 at 2:39 PM

    Já trabalhei numa instituição onde havia mais gente doida por metro quadrado do que era suposto. Bom, doidos somos todos, um pouco, mas era um “ser doido” negativo, daquele que te deixa a pensar em cada palavra que vais usar, daquele que te faz perceber que tens que te acautelar com o que fazes, sob pena de correres o risco de te arranjarem problemas. É um não confiar no outro, um ter que estar sempre à defesa, que felizmente não tive que repetir até agora (e que acho que hoje em dia já não teria estômago para suportar). Mas valeu-me como aprendizagem, e nesse sentido até teve um ponto positivo.

    • Reply
      joan of july
      31/01/2017 at 5:04 PM

      Caramba, esse local não parece ter tido grande ambiente para se trabalhar. 🙁
      Sim, estou contigo, se há coisa que valorizo nisto é a experiência, não de trabalho, mas social…

  • Reply
    Ana
    27/01/2017 at 4:29 PM

    Bem! Que filme! E publicarem o teu artigo é mesmo a cereja no topo do bolo. Por acaso sempre me questionei se o trabalho nas revistas femininas era mesmo estilo Diabo Veste Prada – pelos vistos em alguns casos ainda é pior!
    Eu só entrei para o mundo do trabalho há um ano e até agora não me posso queixar de nada semelhante. Ainda que me tenha deparado com atitudes mesquinhas – do tipo, terem alguma coisa para dizer à pessoa X e, em vez de lhe dizerem directamente, começam a comentar com terceiros (e sim, estou a falar de gente com cargos altos, cuja obrigação era confrontar a pessoa). No entanto, até ao momento safei-me de coisas mais chatas… espero que continue assim! 😡

    • Reply
      Ana
      27/01/2017 at 4:31 PM

      Reparei que o smile ficou com cara zangada… não era suposto! haha!

      • Reply
        joan of july
        31/01/2017 at 5:01 PM

        ahahah não faz mal, Ana. 😛

    • Reply
      joan of july
      31/01/2017 at 5:01 PM

      Não é todas as revistas femininas, mas nesta era assim. Parecia mesmo que elas estavam empenhadas em desempenhar papéis…
      Realmente, isso que contas é revoltante. Odeio quando as pessoas cochicham e não têm coragem de dizer o que têm a dizer a quem é suposto. Grrrr

  • Reply
    Catarina França
    27/01/2017 at 5:56 PM

    Digno de filme!! Que vergonha.

    • Reply
      joan of july
      31/01/2017 at 4:59 PM

      É mesmo! :/

  • Reply
    Camila
    27/01/2017 at 11:15 PM

    Meu Deus mas que experiência! Conseguiste realmente captar-me com este texto! E que bitch que foi aquela tua “amiga” até pensei que ia ser das boazinhas mas afinal… Well, adorei esta tua experiência e espero ler muitas mais!

    • Reply
      joan of july
      31/01/2017 at 4:57 PM

      Uau, muito obrigada Camila! Fico contente por saber que, pelo menos, a minha história serviu como entretenimento. Ehehehe
      Quanto à minha “amiga”, és tu e eu… também achei que ela era boazinha. Como não me tornar um bocadinho desconfiada depois disso? Difícil.
      Sim, vou partilhar muitas mais experiências como esta por aqui, espero que gostes das próximas também. 🙂

  • Reply
    Catarina
    28/01/2017 at 12:13 AM

    Ainda não tive, felizmente, nenhuma experiencia destas mas não pude de me deixar sentir injustiçada por ti! Especialmente pelo teu artigo, é preciso muita lata mesmo. Infelizmente existem muitos empregos “assim” e muitas pessoas sujeitam-se a isso.

    • Reply
      joan of july
      31/01/2017 at 4:54 PM

      É verdade, Catarina, é uma monstruosidade este tipo de coisas acontecerem. Só espero que os estagiários de agora sejam mais espertinhos do que eu fui na altura e não caiam nestas coisas. Por outro lado, também era muito difícil prever este desfecho.
      Mas fico feliz por saber que nunca te aconteceu nada do género!
      Quanto ao artigo, só não fiquei mais chateada porque era um artigo de caca sobre pincéis, não era nada que eu quisesse no meu portefólio. 😛

  • Reply
    Andreia Moita
    17/07/2017 at 1:09 PM

    No meu primeiro estágio depois de concluir jornalismo ,na ESCS também, como essa tua colega, metiam-me a fazer coisas tipo…copy past. Só aguentei três semanas dos três meses em que era suposto lá ter estado. Eu sabia fazer mais do que aquilo e era um estágio, em que não me davam nada, eu tinha eu que tirar daquilo pelo menos experiência e contentamento na minha vida, não é?. Não aconteceu e eu vim-me embora por livre iniciativa!

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