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Uma espécie de paraíso

Se me acompanham no Instagram sabem que vim passar uns dias (quase duas semanas) ao meu adorado Ferragudo, neste Algarve quentinho e saboroso que faz as minhas delícias no Verão. O que sinto quando cá estou é tão diferente do que sinto a viver na cidade que tinha que vos contar como e porquê.

Em primeiro lugar, eu não estou exactamente de férias como nos anos anteriores em que cá estive no Verão. Como comecei o meu novo trabalho (remoto) no dia 2 de Julho e tinha as férias combinadas com o meu namorado de dia 20 de Julho a 1 de Agosto, vim na mesma. A propósito, tenho pensado muito nisto e tenho-me sentido incrivelmente grata por ter tido a oportunidade de trabalhar remotamente, pois se tivesse começado a trabalhar no dia 2 de Julho num trabalho “tradicional” e presencial, nunca na vida poderia ter vindo para o Algarve tão cedo, até porque ainda não teria férias para tirar.
Assim sendo, vim para cá, tenho ido à praia todos os dias, já apanhei o meu bronze (seguro e sem qualquer escaldão, btw!) e tenho trabalhado muito bem à distância.

Há dias confessei no Instagram que não sei como aguento ficar o ano todo longe do mar. Não geograficamente, se bem que deixo de o ver durante meses a fio, mas longe do seu toque, do seu abraço e da sua estranha familiaridade.

Desde criança que sempre senti uma proximidade muito familiar com o mar, como se de alguma forma se tratasse de um pai ou até mesmo um deus. O mar diverte-me, faz-me sorrir e ansiar por ele, enquanto que em momento algum deixa de inspirar o meu respeito e até temor. Temor pelas suas mudanças de humor e pela vida que alberga. Mesmo sentindo-me em casa nos seus braços salgados, tenho sempre a perfeita consciência de que sou uma convidada na casa de outros seres. Aquele não é o meu lar, ainda que sinta com toda a convicção que nunca me cansaria de o ver, mesmo que este ocupasse todo o horizonte e tudo o que me rodeasse. Gosto de pensar que viveria perfeitamente bem (desde que com provisões) num navio pirata. Quem sabe se numa vida passada eu e Anne Bonny não andámos a navegar por esses mares adentro?

“if
the ocean
can calm itself,
so can you.
we
are both
salt water
mixed with
air.”

― Nayyirah Waheed

Fora da praia, a vida por aqui é simples e deliciosa. Desde as típicas comidas de verão, churrascos ao ar livre, peixe fresco e saladas à base de ingredientes da época, passando pela ausência de televisão (só vemos os filmes que trouxemos no disco externo). Só tenho internet porque o trabalho o obrigada, porque nem WiFi temos em casa e a rede móvel não é das melhores (ainda bem).

Aqui onde estamos não há barulhos de discotecas e de bares, sinais de um Algarve turístico e, por vezes, aparentemente sobrepopulado no Verão. Não. Em vez disso, o ar enche-se dos barulhos das gaivotas, do cri cri dos grilos e dos silvos das cigarras. Todas as manhãs, praticamente à mesma hora, aparece um ratinho na zona do jardim da nossa casa que está cheia de vegetação morta e mais seca, como se tivesse lá sido deixada para albergar as formas de vida que compõe este habitat campestre. Minutos depois aparecem um ou dois melros; uma hora depois uma gata.
Como as manhãs, os dias e as noites parecem passar mais devagar aqui (ou nós estamos mais abertos a saborear a sua passagem), conseguimos observar como funciona este ecossistema e existência de espécies.

Estes momentos são maravilhosos para nos lembrarmos de que muito do que fazemos pode contribuir para a nossa coexistência com as espécies animais que nos rodeiam. No livro Lagom, de Niki Brantmark, também criadora do blog My Scandinavian Home, a autora conta-nos que o seu sogro sueco conserva uma parte do seu relvado perfeitamente aparado com ervas crescidas e selvagens, para que ouriços cacheiros e insectos possam ali encontrar um refúgio.

Foto: Jen P.

Achei isto a coisa mais querida de sempre e passei a olhar este cantinho aqui do nosso jardim de Ferragudo dessas perspectiva e cada vez gosto mais dele.

Estou a tentar lidar com o facto desta visita tão boa ao Algarve e ao meu Ferragudo terminar amanhã, mas ajuda o facto de já ter traçado planos para o fim de semana em Lisboa e para a semana seguinte. Não vou deixar que as ideias inspiradas pelo Lagom se desvaneçam com o regresso a Lisboa; vou pô-las em prática e sim, lamentar o fim desta temporada ao sol, mas sentir-me grata por ter podido usufruir dela e por ter conseguido pôr a leitura em dia.

Boas férias para quem está de férias e para quem irá brevemente. Espero que sintam esta paz toda que senti por aqui, mesmo estando a trabalhar remotamente! 🙂

Se quiserem ler mais sobre a minha relação com Ferragudo, aqui ficam alguns posts:

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