Nem sabem como estou feliz por poder finalmente partilhar com vocês este 6 on 6, o segundo deste projecto maravilhoso que comecei no mês passado com a Marta (de quem partiu a ideia), com a Catarina, a Joana, a Vânia e a Joana.
Este mês o tema inspirou-me desde o início e, ao contrário do que aconteceu no mês passado, soube quase instantaneamente o que queria fazer. Antes que comece a dispersar – que vai acontecer, peço desculpa desde já – , o tema é Feminino.
A ‘visão’ para as seis fotos no feminino surgiu sem pensar muito, como que trazida por uma súbita (e bem-vinda) onda de inspiração. Queria que as imagens tivessem ligação entre elas, de forma a atingir um resultado final mais coeso que no desafio anterior. Logo após ter percebido isto, percebi também que ia querer todas as fotografias a preto e branco. Até há poucos dias não saberia explicar porquê, mas agora tudo faz sentido.
Mas vamos às fotos e vou explicando pelo caminho, pode ser?
Na sequência destas duas ideias, fiz uma lista mental de pessoas que gostava de fotografar. Sim, porque sabia que queria que este tema tivesse só pessoas. Não queria objectos tipicamente femininos como batons, perfumes ou uma miríade de objectos considerados “de mulher”.
Mas os dias estavam a passar e não consegui combinar com toda a gente que queria fotografar. Às vezes temos que aceitar que as coisas não correm sempre como queremos e não faz mal. Por alguma razão tenho sempre um plano B. Neste caso, eu fui o meu próprio plano B.
Não queria ser necessariamente eu nestas fotos, mas à falta de outros modelos, dei o corpo ao manifesto. Literalmente.
E antes de montar o tripé, encaixar bem a câmara e escolher a objectiva que achei mais apropriada, tive que pensar bem e longamente:
Mas o que raio é “feminino”?
Nos dias de hoje, em que um homem não é necessariamente masculino nem uma mulher necessariamente feminina, em que os dogmas de outrora se misturam, confundem e se fundem, de tal forma que são – hoje mais que nunca – aceites pela sociedade ocidental, seria muito redutor representar o “feminino” de uma forma ostensiva. Por outro lado, não posso ecoar a voz da sociedade na minha, pelo que temo que a minha representação seja algo superficial.
Por outro lado, tentei redimir-me de alguma forma, ao capturar alguns “defeitos” que, agora mais que nunca e – talvez – pela primeira vez*, não acredito que tornem alguém menos feminino.
Durante a minha licenciatura tive uma cadeira que me “obrigou” a enveredar, ainda que brevemente, pelos estudos de género e a ler um livro maravilhoso chamado – apropriadamente – “Gender Studies: terms and debates“.
Percebem agora porque adoro estes desafios, quer de fotografia, quer de escrita (o meu CPR – a reanimação da escrita)? Porque me fazem pensar (muito) e, muitas vezes, sobre temas incómodos e desconfortáveis, mas importantes em igual medida.
Recentemente, reabri o meu Gender Studies e deparei-me com esta citação previamente sublinhada por mim durante o 3º ano de faculdade e que tão bem se aplica a este tema:
“Beauty culture’s of successful operation depends on a discourse of femininity. Popular ideas of femininity circulate, are maintained and are renewed through the texts which give instruction on how to be a proper woman. The discourse of femininity tells women and girls, sometimes directly, sometimes covertly, what is a beautiful woman. Its instruction manuals come in myriad forms: popular magazines, advertisements, icons, films, window displays, toys and so on. But it does more. It tells us that girls and women should desire to be beautiful women. It tells them to expect to be imperfect and to endeavour to be more perfect. It tells them that beauty comes at a cost (both financial and physical): ‘no pain, no gain’. It provides a set of objectives to work towards, and practices and methods, tools and images with which to aid those endeavors.”
E outra, mais pequena, mas igualmente impressionante:
“The body itself, once natural […] has become a commodity like others – a car, appliances, a house, a personal computer – which needs to be updated and upgraded to reflect changing fashions and personal desires.”
E agora, depois destas duas citações, deixo-vos a pensar neste tema fortíssimo num dia (um sábado), por isso desculpem-me, mas não consegui evitar.
Gostaria de me despedir com uma melhor conclusão, mas no fundo, o que quero deixar explícito é que o conceito de feminino é hoje tão vasto que não me atrevo a defini-lo. Posso concluir, no entanto, que o feminino tem várias representações e todas são válidas. Esta é a minha e espero que tenham gostado.
Não deixem de visitar os blogs das minhas colegas de 6 on 6 para descobrirem quais são as suas interpretações deste tema tão rico e tão interessante! 🙂
Vá, até vos facilito a vida:
- Marta – Viver a Viajar
- Catarina – A Girl in Mint Green
- Joana – Jiji
- Joana Clara – Às Cavalitas do Vento
- Vânia – Raining Days and Mondays
20 Comments
Catarina Coelho
06/02/2016 at 11:03 AMWow Catarina, que resultado incrível! As fotografias, o teu texto… Gostei muito mesmo 😀 e esses excertos do livro dizem tudo. A sociedade criou uma pressão enorme nas mulheres, com os seus padrões de beleza, praticamente todos eles impossíveis para todas nós. Não vou dizer que não me deixo influenciar por eles, porque deixo. As vezes fico mais em baixo, por não ter aquele sorriso bonito, ou não ser tão magra… Mas outras situações surgem (alturas em que ficamos seriamente doentes ou estamos longe de alguém que gostamos mesmo, por exemplo) e aí eu penso: Estava tão preocupada em ser assim ou assado, mas isso será assim tão importantes? Não é. Há coisas bem mais importantes nesta vida! E não nós podemos esquecer disso nunca 🙂
Deixaste-me mesmo a pensar, logo num sábado de manhã, acabadinha de acordar. Que violência 😛 mas obrigada por isso! 🙂
joan of july
08/02/2016 at 12:08 PMObrigada, Cat!! É verdade, foi uma violência num sábado de manhã, sorry. 😛
E concordo com o que dizes sobre sentirmos que é tudo uma grande parvoíce quando nos deparamos com situações verdadeiramente preocupantes. Aí é que vemos que o exterior importa muito pouco face a tudo o resto. 🙂
Joana Sousa
06/02/2016 at 11:49 AMQue fotos lindíssimas, Catarina! Que bom trabalho – gostei mesmo muito! E adorando as fotos, adorei ainda mais a tua reflexão – tentei ir um bocadinho por aí mas tu escreveste-o muito melhor do que eu poderia ter feito. Acaba por ser difícil fugir aos estereótipos quando o tema guias os nossos instintos para isso, mesmo sabendo que cada vez é um conceito menos definido.
Jiji
joan of july
08/02/2016 at 12:11 PMObrigada, Joana! Mesmo! 😀
Este mês queria fazer algo diferente e nem foi difícil porque este tema realmente deu-me muito que pensar. E fico feliz quando posso tirar fotos que têm significado. Não estando maravilhosas, penso que transmitem algo e era isso que queria.
Venha o próximo tema! (já ia dizer qual é, mas controlei-me 😛 )
Carolina.
06/02/2016 at 12:12 PMAdorei a tua interpretação e adorei a mensagem que cada foto transmite. Ao optares por preto e branco ficaram ainda mais poderosas! 🙂
joan of july
08/02/2016 at 12:15 PMMuito obrigada Carolina! Arrisquei com o preto e branco, mas até gostei de como ficou no final. Fico feliz por teres gostado! :*
Sónia Domingues
06/02/2016 at 3:27 PMAdorei a tua interpretação e o uso do preto e branco (tenho um fraquinho por fotos a preto e branco).
“The body itself, once natural […] has become a commodity like others – a car, appliances, a house, a personal computer – which needs to be updated and upgraded to reflect changing fashions and personal desires.”; De facto a sociedade criou tal pressão sobre as mulheres que nos é quase impossível sentir-nos bem conosco próprias!
joan of july
08/02/2016 at 12:16 PMVerdade, Sónia! E essa citação deixa-nos mesmo a pensar, não é? É quase um murro na barriga (e na consciência).
Obrigada! :*
Marta Chan
06/02/2016 at 4:15 PMEste texto mulher! Isto é digno que emoldurar para ler cada santo dia. Sempre fui Maria Rapaz pelo simples facto de me sentir mais confortavel e para fugir ao assédio. Convenhamos, quando nos produzimos mais surgem mais olhares e piropos. São coisas que gosto de evitar pois deixam-me irritada e com mal estar. Essa é uma das razões pela qual não gostei da experiência de ser loira.
Considero-te uma miuda bastante feminina por isso as fotos ficaram deslumbrantes, o preto e branco dá aquele toque delicado e quase inatigivel à foto, com uma carga sentimental tremenda.
joan of july
08/02/2016 at 12:17 PMUau, Marta!! 😀 😀 Até fico sem jeito assim. Ahahaha
Mas sim, convém lembrar certas coisas no dia a dia (mesmo que o texto não esteja emoldurado).
Percebo o que queres dizer com o ser Maria Rapaz para não atrair atenção não desejada. Às vezes dou por mim a usar coisas que sei que não usaria se não temesse certas atenções. É horrível, limitativo e humilhante. Mas, por outro lado, sinto que as coisas estão a começar por mudar um bocadinho. 🙂
Obrigada pelas tuas palavras, baby! :*
Mariiana Capela
06/02/2016 at 7:28 PMAdorei, tudo! Gosto do tom suave e sereno das fotografias. Acho que retrataste este tema da melhor forma! Gostei 🙂
joan of july
08/02/2016 at 12:18 PMYay! Muito, muito obrigada, Mariana! <3
Danny
06/02/2016 at 11:36 PMadorei as fotos. e o preto e branco foi uma excelente escolha 🙂
joan of july
08/02/2016 at 12:18 PMMuito obrigada, Danny! 😀
Vânia
06/02/2016 at 11:50 PMAcho as tuas fotos as tuas reflexões muito fortes e muito íntimas. o que achei muito interessante. Acho que todas fizemos um trabalho muito interessante e que este tema nos disse muito a todas. E as fotos a preto e branco… gosto tanto! 🙂
joan of july
08/02/2016 at 12:19 PMObrigada, Vânia! 😀
Eu suspeitei que este tema ia ser um bocadinho controverso ou, no mínimo, que nos ia pôr todas a pensar. 🙂
Ana Couceiro Pires
09/02/2016 at 6:55 PMA quarta fotografia! A minha favorita desta bonita selecção 🙂
daniela_loadingmoments
10/02/2016 at 12:24 PMAdorei. O texto e uma inspiracao.
Mais engracado e que tenho dois sinais na axila muito parecidos aos teus.