Antes de mais, Feliz Dia das Mulheres a todas!
Em segundo lugar, pergunto-vos: ainda acham necessário celebrar o Dia da Mulher? Adorava que partilhassem comigo, mas antes vou explicar-vos o meu ponto de vista em forma de resposta à minha própria questão.
A ideia de celebrar o Dia Internacional da Mulher surgiu em Nova Iorque, em 1909, no âmbito de uma manifestação pela igualdade de direitos civis e em favor do voto feminino.
Hoje em dia, oficial e legalmente, as mulheres podem votar em todos os países do mundo, com excepção do Vaticano. O último país do mundo a permitir o voto feminino foi a Arábia Saudita, sendo que apenas no ano passado é que – no mesmo país – foi permitido às mulheres o acesso à educação sem consentimento de um tutor (pai, irmão, tio ou marido).
Se acham que a luta está “ganha”, com ou sem a aceitação do voto feminino no Vaticano, enganam-se. E quando o digo, não me dirijo a outras mulheres, pois nunca ouvi nenhuma a afirmar isto mesmo. Já ouvi, no entanto, muitos homens a dizer (sem maldade, mas de um lugar de desinformação), que já não temos batalhas para lutar, mas sim exigências de direitos extra.
Discordo. Exemplo: disparidade de salários e, no geral, a mentalidade das mulheres em relação à vida profissional, não por culpa delas, mas do conjunto de valores que lhes é passado desde a infância.
Posso exemplificar com aqueles comentários que muitas de nós ouvimos em criança e que deitam abaixo demonstrações de aptidão de liderança, por exemplo: “que mandona que tu és!”, entre outros. Isto enquanto um rapaz é encorajado a agir desta forma porque é uma coisa positiva, ter “personalidade de líder”.
Também nos é ensinado que devemos ser comedidas e brutalmente humildes. Devemos deixar o reconhecimento dos nossos feitos para os outros e dar-lhes o volante da nossa narrativa, enquanto nos diminuímos em tamanho e ambição.
Senti muito isso nas escolas por onde passei, por exemplo. Aí, e de certa forma, aprendi que não devia vangloriar-me de coisas boas que fiz e, mesmo sendo elogiada, devo fingir ter uma certa vergonha do elogio. Infelizmente, isso ficou comigo.
Lembrei-me vagamente da primeira apresentação que fiz ao meu primeiro livro, em público, e de ficar super desconfortável com a atenção e com a expectativa de falar sobre algo que eu criei, então dei por mim a menosprezar o meu processo, a minha criação e, em plena apresentação, passei instintivamente o foco para outras pessoas, para desviar de mim essa atenção e expectativa.
Acredito que cada mulher carrega consigo um bocadinho a Síndrome do Impostor, umas mais que outras, claro. Eu luto contra ele com algum sucesso desde que soube que existia e que tinha nome, mas quase todos os dias tenho que o fazer de forma consciente. E sim, especialmente, no que diz respeito a questões profissionais.
Quando, em 2013, Sheryl Sandberg publicou o seu livro “Lean In”, afirmou que os homens candidatam-se a vagas se preencherem apenas 60% dos requisitos, enquanto as mulheres só se candidatam se forem de encontro a 100% dos requisitos.
Isto transformou-se numa espécie de sabedoria popular, mas vários jornalistas vieram desmistificar estes números e classificar esta como uma afirmação puramente especulativa.
Porém, após um estudo elaborado pelo próprio Lindkedin no qual examinou detalhadamente o comportamento de ambos os géneros na procura de emprego, descobriu-se que, apesar de verem o mesmo número de empregos que os utilizadores masculinos na plataforma, as mulheres têm:
- Menos probabilidade de se candidatar a posições que viram no site;
- têm menos probabilidade de se candidatar a posições mais seniores do que sua posição atual;
- Mais probabilidade de serem contratadas em comparação com os homens que se candidatam à mesma posição que elas.
Por outras palavras, a pesquisa do LinkedIn mostra que as mulheres, em média, candidatam-se a menos cargos e, em particular, a cargos menos “importantes”. Ou seja, as mulheres tendem a candidatar-se menos e a apostas mais seguras, o que leva a taxas de sucesso mais altas por candidatura.
Portanto, a afirmação de Sheryl Sandberg não era assim tão especulativa… talvez em números, mas não em essência.
Eu identifico-me com ela; raramente me candidatei a empregos para os quais não estava quase 100% qualificada. Mas também já o fiz e fiquei com o lugar. Em muitos casos, é uma questão de deixarmos a nossa paixão e a nossa ambição falarem mais alto, sem medos. Como fazem os homens, segundo o estudo do Linkedin!
Na esfera da auto-apreciação vulgarmente confundida com “vaidade” e “vangloriação”, muitas de nós (*levanto o braço*) precisam de a praticar muito.
Por isso, neste Dia da Mulher, partilho convosco uma realização recente:
Ah, já agora, o meu podcast (co-apresentado com a Ana Garcês) é este!
Estou cansada de menosprezar os meus feitos e as minhas conquistas. Já fiz e criei coisas incríveis. Sou uma pessoa extremamente criativa, despachada, capaz de passar da ideia à acção e inventar coisas bonitas do nada, de ver o lado positivo em todas as situações e de dar a volta a todas elas quando correm mal. Sou trabalhadora, competente, sou boa no que faço e mereço muito sucesso.
E sabem o que mais? Vocês todas também.
Mais uma vez, Feliz Dia da Mulher.
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Dia da Mulher: a luta (ainda) não acabou - Joan of July
08/03/2022 at 6:35 PM[…] Dia Internacional da Mulher: ainda é preciso celebrar? […]