Se já me seguem há algum tempo ou se me conhecem, poderão já ter reparado que sinto um grande fascínio pelo mar e por todos os seus mistérios. Já de si o tema é, para mim, aliciante, então aliado ao género literário de terror, torna-se simplesmente irresistível.
Está então explicado o motivo de ter eleito o livro Histórias de Terror do Navio Negro, de Chris Priestley na Feira do Livro deste ano. Achei também, devido à temática do mar e ao seu tamanho , que seria o livro ideal para ler na minha primeira semana de férias no Algarve. Esta acabou por se revelar a melhor decisão que podia ter tomado relativamente à escolha do meu companheiro literário de férias.
Vá lá, não me abandonem já… Já não fazia uma review a um livro por aqui há imenso tempo. 🙂
Sinopse
Ethan e Cathy são dois irmãos que adoecem inesperadamente durante uma tempestado e, enquanto aguardam o regresso do pai que saiu para ir chamar o médico, acolhem um estranho marinheiro. Fascinados por histórias de terror – quanto mais mórbidas melhor – os dois irmãos deixam-se encantar pelos contos do misterioso Thackeray, mas acabarão por descobrir que a história mais assustadoras de todas não é, de todo, ficcional…
O ambiente e a escrita de Chris Priestley
Para ter uma pequena noção do quão fantástico este livro é, é necessário descrever brevemente o cenário onde se passa a acção principal. Por acção principal refiro-me ao local onde são contadas as histórias.
Cathy e Ethan vivem numa casa situada por cima de um penhasco que, por sua vez, se encontra por cima do mar. Ao longo de toda a narrativa, toda aquela encosta é cruelmente fustigada pelas ondas do mar que batem furiosamente contra a rocha e ameaçam a integridade da casa – e da seguraça – dos irmãos.
Então temos: mar, encosta, penhasco, casa antiga (não disse antes, mas digo agora), tempestade, chuva e trovões. Perfeito. Está montado o cenário gótico ideal. A escrita de Priestley é simples, sem grandes elaborações e floreados, mas muito eficaz na evocação do ambiente gótico/vitoriano que conferiu a todas as histórias.
Na verdade, o estilo gótico não é, em Histórias de Terror do Navio Negro, apenas parte da paisagem, mas sim também parte do estilo de escrita de Chris Priestley e das ilustrações de David Roberts, que em muito contribuem para este universo negro.
As histórias
Como o próprio título indica, este livro é composto por várias pequenas histórias mas, apesar disso, existe uma história principal por detrás. No entanto, só chegamos a essa conclusão no final, de tão surpreendente que é.
Podem achar, à primeira vista, que este é um livro infanto-juvenil e que as histórias que o compõe se destinam a uma faixa etária certamente inferior à vossa. Não vos vou dizer que estão errados; o livro é, de facto, comercializado como sendo um livro juvenil. Porém, rapidamente me esqueci desse facto assim que comecei a ler. A verdade pura e dura é que a mente adulta consegue decifrar terrores para lá dos descritos que, possivelmente, a mente infantil não conseguirá. Ao longo da leitura deste livro, dei por mim – com a minha idade e experiência de vida actual – a imaginar cenários com pormenores bem piores do que a minha mente infantil seria capaz de fazer.
Das onze histórias, à semelhança do que fiz nesta review, se tivesse que escolher uma favorita, esta teria que ser, sem dúvida nenhuma, O Navio Negro. E se tivesse que escolher uma palavra ou reacção para a descrever, seria “arrepios”. Esta sensação arrastou-se para a história seguinte, Mata-Lobos.
Não há nenhuma história má, mas há umas melhores que outras, claro, e o facto de serem narradas por uma personagem tão enigmática como Thackeray ajuda a aumentar o meu grau de interesse enquanto leitora. Da forma como este marinheiro é apresentado faz-nos querer saber mais. Apesar de falar pouco dele próprio, sentimos que podemos descobrir mais um bocadinho se lermos com atenção as suas palavras e não conseguimos deixar de pensar se conhecerá todas aquelas histórias apenas pela boca de outros marinheiros, companheiros de viagens marítimas intermináveis, ou se por as ter presenciado.
Thackeray é uma personagem-chave deste livro, não só porque é o narrador das histórias, mas por ser também quem faz com que Cathy e Ethan descubram o que se está a passar realmente nas suas vidas e com o seu pai, que parece nunca chegar com a promessa que lhes fez quando os deixou para ir buscar o médico à aldeia.
Não vou – nem posso – estragar-vos o final do livro, mas o que os irmãos vão descobrir é terrorífico e é uma descoberta muitíssimo forte. Foi essa mesma descoberta que me fez questionar se este seria realmente um livro para crianças/jovens…
Conclusão
Não me parece justo terminar esta review com algo que não soe a recomendação, por isso vou fazê-lo de qualquer forma. Se gostam de histórias de terror e não é preciso um terror muito refinado para vos pôr a pensar e a sonhar, leiam as Histórias de Terror do Navio Negro. Penso que ainda não o frisei, mas estas histórias são perfeitamente apropriadas para serem contadas ou lidas em voz alta a crianças. De preferência, junto a uma lareira crepitante ou perto do mar num dia cinzento.
A minha avaliação: 4,5/5
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