Quando a minha mãe tinha a minha idade não existiam blogs, a palavra “selfie”, ou telemóveis que tirassem fotos. Ok, nem telemóveis sequer.
Hoje em dia, como bem sabem, é terrivelmente fácil para nós tirarmos uma foto à nossa maquilhagem, cabelo e roupa para partilhar nas nossas numerosas redes sociais e blogs.
E que atire a primeira pedra quem nunca pensou ao ver as selfies de outra rapariga: “grande vaidosa”, ou “esta adora-se, só pode”.
Digam lá a verdade, já pensaram algo de género apesar de fazerem o mesmo, certo? 😉
Pois, eu já, mas desde que tive uma espécie de epifania relativamente a este tema no sábado passado, tudo mudou. Deixem-me explicar.
Esta é a minha mãe algures no início dos anos 80 (estimativa minha) em casa dos meus avós. Coisas que retiro desta foto:
- a minha mãe sempre foi gira!;
- este outfit até parece vintage-moderno.
- que camisola fofinha. Adoro azul-bebé.
- nem parece a casa dos avós.
- os avós tinham papel de parede na sala de jantar? Nunca tinha visto!
Perceberam o que se passou aqui? Na altura, esta era uma foto da minha mãe como outra qualquer. Mas, para mim, tantos anos depois, adoro ver fotos da minha mãe quando tinha mais ou menos a minha idade (se bem que aqui até acho que era mais nova), porque vejo muito mais do que aquilo que lá está, nomeadamente:
- o ambiente em volta: é-me familiar, já lá estive? Conheço, mas era diferente na altura?
- as roupas, através das quais identifico a época em que a foto foi tirada;
- reconheço muitas pessoas com quem está nas fotos (em cima é a minha mãe e a minha tia, mas há inúmeras fotos com amigos também);
O que quero dizer é que uma foto em que só ela aparece nunca é só isso. Talvez o fosse na altura, mas anos depois ganha significados em que ela nunca pensou quando alguém lhe tirou as fotos. Quem não adora ver o que os pais usavam quando era mais jovens? Os bares que frequentavam, os amigos que tinham? Até porque é impossível não criarmos paralelismos entre a juventude deles e a nossa e compararmos o que conhecemos das nossas vidas e rotinas com o que vemos das deles através das suas fotos.
Através das fotos dos meus pais, mas em especial da minha mãe, consigo ver uma evolução da sua vida através das roupas e penteados que usava. Calma, não se riam já que eu já explico o que é que isto quer dizer.
As roupas que usava quando era solteira não eram as mesmas que usava quando casou e saiu de casa dos meus avós para começar a sua própria vida e família. As pessoas crescem, amadurecem, e o nosso guarda-roupa acompanha todas as nossas fases de transição. Por exemplo, quando andava na faculdade (a tirar a licenciatura, durante o mestrado não) adorava coisinhas com caveiras. Não é que não goste hoje em dia, mas sei que não vou sair de casa com uma saia cheia de caveiras… Cresci. E o meu guarda-roupa também.
E nem só as nossas roupas contam a nossa história. Há certas expressões faciais, certos gestos que não nos apercebemos que usamos quando nos fotografam que dizem muito sobre nós. Por exemplo, nesta foto acima, bem diferente das outras. Aqui, a minha mãe estava grávida.
E aqui, já com o meu irmão em bebé. Pois, eu não apareço neste post. Estas fotos devem ser de 1994. E mais uma vez se pode observar uma mudança na roupa e no cabelo. Será que esta mudança se deve à maternidade ou à altura que se vivia (anos 90)?
E nós? Será que mudamos a forma como nos vestimos se formos mães? Será que nos vestimos consoante as modas ou consoante o nosso gosto pessoal apenas? Notar-se-à muito daqui a 20 ou 30 anos a época em que fomos jovens naquilo que vestimos nas nossas fotos antigas? Conseguirão as gerações seguintes identificar a década em que foram tiradas as nossas fotos através dos nossos cabelos e roupas?
Que histórias contarão as nossas fotos?
A questão é mesmo essa. As nossas fotos contam histórias. Quer dizer, talvez ainda não, mas daqui a muitos anos contarão. Contarão aos vossos filhos que vocês eram uma pessoa feliz, até um pouco arrojada, que fingia que vivia noutra época mais recuada, embora a modernidade dos cortes e dos padrões vos desmascarasse ligeiramente.
As vossas fotos contar-lhes-ão que tinham muitos amigos, que tinham e sempre tiveram uma vida antes deles e que um dia eles vão perceber isso, tal como quererão que os filhos deles percebam.
Eu própria já consigo traçar a minha própria história e emoções ao ver fotos minhas de há 5 – 10 anos, portanto a teoria é verdadeira. 😉
Em resumo:
Hoje tiramos uma foto; uma selfie ou uma foto de corpo inteiro e não damos nada por ela. É só mais uma para a nossa colecção de fotos digitais que tiram e se apagam quando estivermos fartos delas. Mas se, por enquanto, não são nada de especial, daqui a alguns anos vão ser, acreditem.
E os vossos filhos vão sentir-se gratos por vocês as terem guardado.
13 Comments
Analog Girl
04/03/2015 at 6:39 PMÉ muito verdade o que dizes!
E a tua mãe é muito gira mesmo, vocês são muito parecidas 🙂
Em breve terei a tarefa de organizar as fotografias de família, apesar de já ter reparado muito nas roupas e cabelos da minha mãe ao longo do tempo, hei-de estar mais atenta, cheira-me que vou reparar (ainda mais) nesse tipo de detalhes! 🙂
Isa Machado
04/03/2015 at 9:34 PMEu adoro ver fotos de quando os meus pais era novos, e acho que mesmo as “estupidas” selfies que tiramos podem ter um significado no futuro que nem imaginamos! 🙂
Isa M., Tic Tac Living
joan of july
06/03/2015 at 2:57 PMEu também acho que vão adquirir muito mais significado do que o que têm agora, Isa! :)*
Inês Silva
04/03/2015 at 11:29 PMExplicação mesmo bem feita, tens toda a razão :3 eu justifico as minhas selfies pelos imensos auto retratos que estudei na faculdade e como eles foram importantes para o estudo de várias coisas na História 🙂
joan of july
06/03/2015 at 2:50 PMObrigada, Inês! 😀 Também uma excelente “desculpa”! Não que precisemos de desculpas, continuo a achar que é uma forma legítima de documentar a nossa vida e evolução. 🙂
Danny
08/03/2015 at 1:52 AMtens toda a razão 🙂 eu própria uso o meu instagram para ver a minha evolução e recordar coisas nem que seja de há meio ano atrás, que a minha memória não é muito fiável!
adorei as fotos da tua mãe. e sim, a camisola azul bebé dela era um mimo!
Raquel
23/03/2016 at 7:00 PMAinda não tinha lido este post e adorei! Sobretudo porque os meus pais têm imensos álbuns (então do casamento deles devem ser uns cinco ahah) e eu adoro ver as fotografias da minha mãe, assim num misto de admiração e ‘quem-me-dera-ser-tão-bonita-como-ela’ (sou muito parecida com o meu pai, excepto nos olhos azuis…) 🙂
Margarida Melo
13/06/2016 at 10:00 PMDeixa-me dizer-te que acho que a tua mãe está giríssima na penúltima foto (com o top/fato de banho amarelo com bolinhas brancas e óculos de sol). Faz-me lembrar os filmes americanos mais antigos.
Mas sim, acho que tens toda a razão. Por acaso algo que tenho por hábito é armazenar maior parte das fotos que tenho no computador com data para um dia mais tarde poder recordar ou usar em alguma coisa.
joan of july
15/06/2016 at 10:15 AMAhahah tens toda a razão, parece mesmo actriz de filmes americanos antigos nessa foto! Talvez também seja por isso que gosto tanto dela.
Oh, armazenas só no computador? :O Não faças isso! Ou melhor, não há mal em armazenar no computador, mas por favor faz upload das fotos para uma cloud (Dropbox, Google Drive, Google Photos, etc.). Já perdi muitas fotos por só armazená-las no PC e sabes que eles às vezes pifam, não se pode confiar muito neles. 😛 Protege as tuas fotos, Margarida, não te esqueças. 🙂 Um beijinho
Patrícia Silva
16/10/2017 at 10:47 PMÉ mesmo isso! Adoro ver as fotos antigas da minha mãe e até as minhas de quando era mais pequenina, mas ver fotos de crianças dos amigos é que é fantástico! Espero que um dia quando tiver filhos eles também tenham esse gosto por ver as fotos. kiss^^
Joana Rito
14/11/2018 at 12:11 PMGostei tanto deste post, um dos meus preferidos. Nunca tinha tido esta reflexão mais profunda, beijinho 🙂
Catarina Alves de Sousa
14/11/2018 at 12:16 PMMuito obrigada, Joana! Fico muito contente. Também é um dos meus favoritos por aqui. :)*
Cat in Amsterdam - Joan of July
21/10/2021 at 2:52 PM[…] o que escrevi um dia no post “Porque tirar fotos da nossa roupa não é um exercício […]