Desde que me lembro de mim, que tenho noção que os outros me identificam como a Catarina das letras, a Catarina dos livros. Hoje em dia encontro tanta gente que me diz que nunca duvidou que eu seguiria a via das letras e das humanidades… Pelos vistos sabiam mais que eu. Não, não é verdade. Eu no fundo sabia, só não pensava nisso activamente. A verdade é que aos sete ou oito anos escrevi aquilo que eu chamava “um livro”, que, na verdade, não passava de uma história toscamente escrita e ilustrada- com as gravuras até pintadas por fora- num caderno A3 da Pocahontas. Hoje em dia vejo isto como um sinal de que realmente possuía aquilo a que se chama de vocação.
Esta memória fez a sua aparição na minha mente provavelmente porque, para além de fazer alguns trabalhos como freelancer na área de edição e paginação de livros, me ando a debater com o seguinte dilema: comprar um leitor de eBook ou não? Engraçado como algo aparentemente tão simples desencadeia uma série de pensamentos mais complexos.
Por um lado o leitor de eBook dar-me-ia jeito para ler os textos que pagino, uma vez que me custa ler textos longos no computador. Mas, por outro, será que iria eventualmente sentir uma espécie de pressão psicológica causada por um aparelho inanimado para o alimentar com mais e mais livros? E, claro, se comprasse os ditos livros para ler no novo gadget, não iria gastar dinheiro em livros a sério. Sublinho a sério propositadamente. Os livros em papel estavam cá antes de nós e espero que ainda permaneçam depois de nós. Nem preciso de argumentar que a confecção e impressão dos livros em papel dá trabalho a muito mais gente, basta
mencionar o prazer incomparável que só se obtém ao abrir um livro, de sentir o aroma das suas páginas, de sentir a sua textura página a página. O ser humano é um ser visual e sensorial; todas estas coisas fazem da experiência da leitura algo muito mais realista, que nos transporta tão mais facilmente para mundos encantados e para realidades alternativas. Para além disso, não tenho particularmente receio de abrir um livro na rua enquanto espero pelo transporte. Já um leitor de eBook…
Mas acredito já ter tomado esta decisão ao encomendar um livro há uns minutos. Em papel. E provavelmente com cheiro a novo. Prontinho para ser devorado, lido e, se for tão bom como espero, relido. As minhas dúvidas quanto à compra foram postas de lado imediatamente após ler a seguinte frase no primeiro capítulo: ”If you know too much, you grow old too soon”. Esta frase deixou-me a pensar e aguçou-me ainda mais a vontade de o ler. Atrevo-me ainda a dizer que daria azo a mais e mais páginas A4 de pensamentos. Mas fico-me por este que foi literalmente um dos meus pensamentos dos últimos quinze minutos.
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