Liam

Durante toda a nossa vida, advertem-nos – a nós, mulheres – para que não nos apaixonemos à primeira vista por alguém que acabamos de conhecer e, mesmo assim, parece que quase todas as mães ignoram esta regra societal quando parem o primeiro filho, apenas para repetir o padrão a cada filho que lhes nasce.

Ora eu, que tanto adoro quebrar dogmas, sempre achei estranho este amor desmedido à primeira vista, mesmo por um filho e mesmo que a sociedade abra uma exceção para este tipo de amor.

Eu, que sempre gostei de desafiar algumas normas, sempre achei bizarro este ser um amor instantâneo e incondicional. E então aconteceu comigo. Não o tal amor à primeira vista, mas o nascimento de um filho. Este sentimento incomensurável veio dois dias depois, ainda no hospital. Estão a ver, não foi amor à primeira vista, mas sim, foi muito rápido, admito. Dois dias após o nascimento dele, aquele sentimento quase mitológico que sempre me foi descrito por outras mães, atingiu-me com a força dos relâmpagos que furiosamente iluminaram o céu tempestuoso na noite em que ele nasceu.

Felizmente, tive a sorte de poder registar o preciso momento em que isto aconteceu. Foi na manhã do dia em que viemos os três para casa e estávamos só nós os dois acordados, mais eu do que ele. Estava a amamentá-lo quando ele adormeceu e não me deixou persuadi-lo a continuar. Claramente, a mãe já não se lembra do quão cansativo é nascer. Dominada pela euforia do desejo de ir para casa e começar a nossa vida a três, decidi então voltar a colocá-lo no berço e começar a arrumar as nossas coisas para nos podermos despedir do hospital. E eis que ele coloca o bracinho por cima do meu peito como que num abraço que o seu corpinho recém-nascido era ainda demasiado pequeno para completar. Não fui capaz de o desgrudar de mim naquele instante. E assim permanecemos os dois durante quanto tempo, nunca saberei; ele adormecido, eu conquistada. E o mundo, por momentos, foi só nosso.