O processo de mudar de casa está quase sempre associado a duas coisas: a um trabalho imenso (e chato) de empacotar e carregar com inúmeros móveis e caixotes, mas está também relacionado com recomeços e renovação (da casa e nossa). Porém – e apesar da casa nova ser um enorme upgrade em relação à antiga -, surgem alguns mixed feelings.
É nessa fase que me encontro. Sei que já não falo há tanto tempo da casa nova aqui no blog que até já se tinham esquecido dela, mas como acontece frequentemente nas obras de qualquer coisa, estas atrasaram. Tínhamos um carpinteiro que fez alguns trabalhos lá em casa e que, depois, simplesmente desapareceu e deixou de atender qualquer pessoa cujo número já conhecesse. Fala-se em vigarista e eu não consigo não concordar. Portanto, tivemos que contratar outro, que continuou o trabalho onde o outro deixou e ainda corrigiu alguns trabalhos do anterior.
Pois, como podem ter imaginado, isto atrasou imenso as obras de renovação da casa, mas – se tudo correr bem – a casa fica pronta ainda esta semana. Quer isto dizer que a nossa mudança está iminente.
Até agora, via a mudança como algo longínquo e bem longe no horizonte, mas agora que vejo os caixotes (ainda por encher, é certo), dá-me um ligeiro aperto no peito.
Não me compreendam mal, a casa nova é linda, enorme (para o que estou habituada e para os ‘standards’ de Lisboa), foi renovada ao nosso gosto (escolhemos todas as tintas, loiças e materiais de construção, excepto o chão de madeira que mantivemos) e será também assim decorada, tal como a actual. Viver numa casa assim é o sonho e já consigo imaginar-me no meu novo escritório a escrever para o CPR e para o blog, com a minha varanda aberta, o sol a entrar e os meus gatos refastelados ao sol. Toda uma visão romântica da coisa. Já imagino onde e qual será o meu canto de leitura, visualizo o meu toucador no quarto e eu a fazer a minha rotina de beleza antes de ir para a cama ou a maquilhagem de manhã. Já vejo onde será o meu canto de leitura e até me vejo a utilizar a cozinha nova para fazer novos e maravilhosos cozinhados.
Mas parte de mim sente que está a atraiçoar a casa actual ao fazer todos estes planos, ainda nem tendo saído daqui. É que, na verdade, eu estou bem aqui. Fui e sou feliz nesta casa. É pequenina, mas é tão gira, tão cheia de memórias, tão confortável… É a única casa que o Loki (o meu gato) algum vez conheceu. A Zelda (a gata) já vinha comigo da casa anterior que eu partilhava, mas foi aqui que conheceu verdadeiramente o sentido de lar, com a dona e o dono a viver juntos pela primeira vez.
Sim, eu sei que as memórias e as histórias se constroem, mas cada sítio por onde passamos tem as suas. Não podemos incutir memórias reproduzidas de uns sítios para os outros. Não é assim que funciona. E abandonar um sítio significa deixar para trás os cantos que evocam certas memórias. A partir do momento que ficam para trás, teremos verdadeiramente de nos lembrar delas, pois já não existirão os riscos, paredes, amolgadelas próprios da casa que nos vão lembrar delas. E se nos esquecermos? E se as perdermos para sempre?
É este o meu desabafo e os meus mixed feelings sobre mudar de casa. Algum de vocês já se sentiu assim por mudar de casa?
(nota: o chão final da cozinha não será aquele. Depois mostrarei o final das obras também! 🙂 )
Se quiserem ver fotografias do antes e durante da casa, podem ver aqui e aqui.
7 Comments
Tim
02/08/2016 at 11:47 AMEstá a ficar gira 😛
joan of july
02/08/2016 at 12:33 PMObrigada!! :D*
Joana Sousa
02/08/2016 at 12:02 PMEntendo-te – começo a fazer planos para sair da casa onde sempre vivi, e ainda nem tenho nada adiantado e já sinto o mesmo. Isso mais a mudança radical de deixar de viver com os meus pais ahah mas faz parte! E com uma casa linda como a tua está a ficar, vais criar muito boas memórias de certeza! 🙂
Jiji
joan of july
02/08/2016 at 12:34 PMAhh também percebo bem esse sentimento, Joana, ainda que a minha vez já tenha sido há muito tempo, quando decidi vir estudar para Lisboa. Custa sempre. Somos criaturas de hábitos, quer queiramos quer não! E eu sou super apegada às “coisas”, nem é só às pessoas. 🙂
Helena dos Santos Pereira
02/08/2016 at 1:23 PMEu mudei de casa há cerca de 11 anos e foi um processo tão repentino que não tive tempo de sentir nada disto. Mas parece-me um sentimento, de certa forma, bonito. Vais deixar coisas para trás que, tal como referiste, evocam memórias, e é normal que isso te deixe um pouco cabisbaixa. Eu tenho um processo contrário: eu adorava a casa onde morava antes, então agora imagino como é que as coisas estariam decoradas se ainda lá estivéssemos, ahah.
Mas vai correr tudo bem, a casa está bem bonita! Boa sorte com as mudanças!
Lena’s Petals xx
Maria
03/08/2016 at 12:29 PMEu por acaso é um pouquinho ao contrário. Depois de ter estado um ano a estudar fora do país e a viver sozinha – ainda que a partilhar a casa com mais uma pessoa -, fiquei um pouco com o bichinho da independência e de ter o meu próprio “lar”, e é nessa espécie de limbo que ainda ando. E ainda irei ficar assim por mais uns quantos aninhos até conseguir arranjar uma casa para mim. De qualquer modo, também me dá muita pena ter saído da casa onde vivia há uns quase 10 anos ou assim. Esta casa já é completamente o meu “lar”, mas ainda há coisas da outra que me deixam saudade.
P.S.: a casa está a ficar um espectáculo :p
Casa nova, capítulo novo - Joan of July
26/04/2020 at 4:36 PM[…] vez que mudei de casa foi em 2016. Na altura, documentei a mudança no blog, falei-vos dos meus mixed feelings em mudar de casa, mostrei-vos o antes, o durante e o depois e cada divisão da casa com a […]