Sei que estou pelo menos uns sete anos atrasada para a hype do Eat Pray Love, mas só agora – finalmente – consegui tomar a decisão de o ver propositadamente de um ponta à outra. Em 2012 cheguei a apanhá-lo na televisão à noite, mas adormeci a vê-lo e desde então nunca mais me esforcei novamente por vê-lo. O desejo recente em ver este filme chegou por intermédio do livro Big Magic, da mesma autora do livro Eat Pray Love, Elizabeth Gilbert. Durante o Big Magic, Liz menciona várias vezes este seu best-seller, tornado em filme em 2010, com a Julia Roberts no papel da própria Elizabeth Gilbert, já que a obra é auto-biográfica.
Só não vou fazer uma sinopse do filme porque basicamente toda a gente do mundo já o viu.
“Dolce Fare Niente”: aprender a não me sentir culpada por parar
Na parte em que Liz vai a Roma reaprender a viver com calma e a saborear a comida houve uma cena durante a qual não tive como não me relacionar com a personagem principal.
Em Roma, Liz estava a aprender italiano com um habitante local que a leva com ele ao barbeiro. Lá, Liz conversa com um amigo do professor de italiano e diz-me que se sente culpada por estar em Itália há já duas semanas e de não ter feito mais anda que não comer.
A resposta dele? “Isso é porque és americana!”, seguindo-se de uma explicação elaborada sobre a importância de não fazer nada – Dolce Fare Niente -, “algo em que os italianos são exímios”, completava o professor de italiano. Segundo o amigo, os americanos conheciam o entretenimento, mas não se sabiam divertir.
Como não pensar na vida depois de uma cena destas?
Hoje passei o dia todo em casa como já não passava há nem sei quanto tempo, mas ao mesmo tempo passei muito tempo deste dia a sentir-me culpada, porque devia ir sair, passear (apesar do tempo estar manhoso). Enquanto via o filme ia pensando em sítios onde ir a seguir, se levava a bicicleta ou se ia a pé, se preferia a natureza ou um café bonito,…
Não sei parar, ficar sossegada e sentir-me bem com isso, foi a conclusão a que cheguei.
Depois desta cena do filme, pensei:
“Caramba, já fiz tanto este ano e ainda nem vamos a meio e no próximo fim de semana há O Bloggers Camp e vai ser um fim de semana de loucura, tu mereces descansar e ficar em casa o dia inteiro se quiseres!”
A meditação despertou… a fada do lar que há em mim
A segunda parte da viagem de Liz (o “Eat” foi em Itália, agora o “Pray” na Índia) levou-a à meditação e à busca por Deus, pela sua espiritualidade e pela faculdade de se perdoar por ter magoado o ex-marido.
Enquanto esteve no templo, teve que fazer trabalho voluntário, o que envolveu lavar o chão e deixar o chão do templo limpo.
Ao ver esta parte do filme esperava que esta acordasse em mim uma vontade de finalmente experimentar meditar, mas parece que não. Não sei se alguma vez vou ser pessoa de meditar, mas que fiquei com vontade de limpar a casa e de pô-la cheirosa, isso fiquei. Não sei porquê, juro que não, mas como estava com vontade de escrever, senti que só o poderia fazer com a casa limpa, arejada (abri literalmente todas as janelas) e cheirosa (usei o meu spray de óleo de alfazema caseiro e acendi uma vela com cera de baunilha a derreter por cima noutra divisão). Até me deu para lavar e estender daquilo tipo de coisa que raramente nos lembramos de lavar: tapetes, capas de almofadas e cobertas dos sofás (daquelas que eu tenho para o proteger um bocado dos pêlos dos gatos).
Às vezes, lavar, arejar e perfumar a nossa casa faz com que a sintamos quase como um templo, mesmo que a nossa meditação não seja feita de olhos fechados, mas sim na forma de palavras escritas.
Mantenho o que sempre disse: casa limpa e arrumada, mente livre e arrumada.
Encontrar-me sem sair do sítio
A terceira parte da viagem de Liz levou-a a Bali, onde já tinha estado anteriormente e onde havia prometido regressar. Foi também lá que conheceu aquele que viria a ser seu marido durante 10 anos. Mas não vou fazer um sinopse, não vou não vou.
Quero apenas dizer que nesta parte do filme deu-me uma vontade gigante de ir a Bali, de viver durante uns tempos naquele paraíso, de viver lá uma vida mais simples e de reunir toda a inspiração possível.
De volta ao mundo real, estalei os dedos mentalmente para me acordar. Hoje não ia acontecer, não ia estar hoje em Bali por nenhum milagre, mesmo que tivesse saído de casa naquele preciso momento.
É fácil perdermos-nos nos nossos pensamentos e nos nossos sonhos acordados, pensar no que gostaríamos de fazer no futuro, mas às vezes nem num futuro real, mas num futuro de um mundo ideal (para nós, pelo menos). E durante algum tempo é delicioso deixar a nossa mente fugir para esses pensamentos, mas a verdade é que o agora é mais importante do que um depois longínquo, quanto mais um depois que é capaz de nem se realizar.
O que quero dizer é que eu podia ter ficado o tempo todo a pensar em Bali e outras viagens para me encontrar e inspirar, mas a verdade é que o encontrar-me lá fora é uma desculpa para não fazer nada agora
Quando alguém é verdadeiramente criativo, consegue tirar inspiração de qualquer coisa. Para mim hoje, foi da minha casa, do cheio a baunilha e a alfazema, da roupa lavada, do ar fresco que se sente com as janelas abertas, da chuva miudinha que começou a cair, do barulho dos pássaros, dos meus gatos a dormir e do facto de me sentir bem aqui.
Porque se não nos sentirmos bem onde estamos agora, nada nos garante que seremos felizes em Bali. Ou noutro sítio qualquer. Um dia todos regressamos. A casa e à realidade.
6 Comments
Rita
28/05/2017 at 8:20 PMLi o livro para poder ver o filme mas nunca cheguei a vê-lo mas adorei a tua reflexão, principalmente a de arrumar a casa. Para mim arrumar coisas é uma terapia (menos tratar de roupa, q secaaaa), sinto que estou a organizar as ideias, a mexer-me, a por tudo no lugar, a livrar-me de coisas que não interessam.
Acho que essa é uma das grandes ensagens da história: organizarmo-nos e vivermos com aquilo que é essencial!
The Brunette's Tofu
29/05/2017 at 9:52 AMEstes teus posts são tão mas tão bons! Esse livro está no meu top de próximos a ler 🙂 Beijinho
Inês
29/05/2017 at 11:05 AMSempre pensei que esse filme fosse um cliché e fui uma snobe e nunca me interessei em vê-lo. O teu post faz sentido, especialmente na primeira parte, tenho notado muito essa tendência no pessoal na minha/nossa geração. A obrigação de estarmos sempre ocupados é desgastante!
Marta Coelho
29/05/2017 at 9:36 PMAhhh as comparações estão mesmo boas, estava a tentar adivinhar cada uma das situações e não consegui adivinhar nada haha concordo plenamente que uma casa arrumada e cheirosa faz toda a diferença na nossa mente.
Vi o filme e arrependi me logo de não ter lido o livro primeiro mas agora que me esqueci de tantos detalhes do filme estou pronta para ler o livro 🙂
Duas coisas: vamos pra Bali um mês? 😀
Quero ler o big Magic cacete!
Daniela Soares
29/05/2017 at 11:42 PMTambém nunca vi o filme duma ponta à outra e uma vez até comecei a ler o livro mas não sei porquê parei e não voltei a pegar nele. A verdade é que agora fiquei com uma vontade enorme de ir ver o filme!xD Concordo com isso da casa arrumada e também adorava ir a Bali especialmente porque ao contrário de ti eu comecei a entrar no mundo da meditação e Bali, tal como a Índia são locais óptimos para desenvolver essas competências e ir ao encontro de nós mesmos. Um dos meus objectivos de vida é um dia puder fazer voluntariado internacional, juntando duas coisas que gosto muito viajar+fazer alguém feliz. Acontece que no início deste ano percebi que às vezes os maiores desafios podem estar muito perto de nós e as pessoas que precisam de ajuda podem estar até na nossa casa, por isso há que dar um passo de cada vez, devemos parar e respirar mas nunca deixar que a vida nos passe ao lado!
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Vânia
30/05/2017 at 11:04 AMJá comecei a ver essa filme tantas vezes e nunca do princípio ao fim. Aquela vez em que me sentei no sofá disposta a vê-lo todo, aconteceu algo com a minha box e quando chegou a meio o filme emperrou e não consegui vê-lo mais. Nas outras vezes adormeço, acontece algo que me leva a ter que sair… enfim!