Queria ter publicado este post logo no domingo, o primeiro dia depois do Reverence Valada 2015, mas sabia que se o tivesse feito, a cabeça ainda não estaria fria e as opiniões seriam moldadas pela frescura do evento. Desta forma, já com o festival temporalmente mais distanciado do presente (infelizmente), sinto que chegou a altura de fazer a apreciação geral da 2ª edição do Reverence, tal como no ano passado fiz da 1ª edição.
Para começar, posso dizer-vos que desta vez vivi ainda mais o ambiente de festival, pois acampei no parque de campismo do festival de Sexta (dia 28 de Agosto) para sábado. Sei que vocês não sabem disto, mas acampei três anos seguidos em Paredes de Coura, há anos atrás, demasiados anos para me lembrar da sensação de acampar num festival. A última vez que acampei em Paredes de Coura foi em 2006, quase há dez anos atrás. Na altura não trabalhava e estava de férias de faculdade, portanto, só por aí podem perceber que a disposição é diferente. A única coisa de que me lembrava é de que não gosto nadinha de acampar. Mas, pelo Reverence, vale tudo a pena.
O campismo
Para quem nunca foi ao Reverence Valada, o recinto tem dois parques de campismo: o gratuito e o de glamping (google it) chamado Sleep em All. Ficámos no gratuito para poupar dinheiro e reviver os tempos de PDC 2004-2006 numa daquelas tendas que se montam em 2 segundos, mas que demoram 2 horas a serem desmontadas. Para quem a luz do dia e o barulho não são problemas, acampar deve ser muito giro, mas não é definitivamente o meu caso.
Confesso que, aquilo com que estava mais preocupada, era a questão da higiene. As casas de banho são as típicas de festivais, pronto, não há muito a fazer em relação a isso. Quanto aos chuveiros, achei-os suficientes e eficientes. Claro que a água é fria, mas estava tanto calor que acabava por saber bem.
Na verdade, o meu único problema nesta questão de sítios para fazer a higiene no parque de campismo, foi o facto de existir um único lavatório… Lavatório esse em que algumas pessoas lavavam pratos, talheres e outros utensílios, deixando restos de comida à volta do mesmo, o que, por sua vez, atraía moscas.
Pessoal da organização: não dá para incluir mais uns lavatórios para o ano? Please? 🙂
Tinha mesmo que dizer isto (e até vos vou mostrar a minha tenda num post mais à frente), mas agora vamos ao que interessa: à música!
Dia 28
Não se preocupem se caíram neste post de pára-quedas ou se costumam seguir o blog, mas não estão a reconhecer nenhuma banda deste post. Eu própria desconhecia a grande maioria. Já no ano passado foi assim quando fui ao Reverence Valada. E é mesmo assim, é essa – para mim – a beleza deste festival, porque o Reverence dá-me a conhecer ao vivo bandas de estilos musicais que adoro e que me entram facilmente nos ouvidos, mas que de outras formas não as conheceria. Faz sentido?
O Reverence do ano passado trouxe à minha vida bandas como, por exemplo, The Wytches, Red Fang e Graveyard. Creio que, agora que penso nisso, conhecia mais bandas no ano passado (Electric Wizard, Singapore Sling, Mão Morta, Black Angels, etc.) do que este ano, mas como sempre faço, explorei uma data deles no Spotify antes da data do festival.
De acordo com a minha exploração, as duas bandas que mais queria ver e ouvir ao vivo no dia 28 eram Alcest e Sleep. Alcest foi a primeira banda que vi neste dia (a seguir a Bizarra Locomotiva, de quem só apanhei um bocadinho do concerto), pois já chegámos um pouquinho tarde ao Cartaxo, ainda montámos tenda e fomos buscar os bilhetes, no meu caso, a pulseira de Press (um ENORME obrigada à Sara da organização do Reverence por isso <3 ).
Apesar de não perceber grande coisa do que dizem sem ir ver as letras, apaixonei-me perdidamente pela sonoridade melancólia desta banda francesa de post-Black Metal. Os Alcest fazem o tipo de música que me faz sentir coisas (feel all the feels, as people say on the internet) e me transporta para outros mundos e realidades. Falo, por exemplo, de Percées de Lumière. Pode-se dizer que são a minha descoberta de 2015, tal como os Solstafir (sobre os quais escrevi aqui) o foram em 2014.
A seguir ao concerto de Alcest, que teve lugar no Palco Reverence, o palco principal do festival, fomos espreitar o concerto que estava a acontecer naquele momento no palco Praia.
Por acaso Black Rainbows não foi uma das bandas que explorei previamente no Spotify, mas acabou por se revelar uma grande surpresa. As músicas tocadas por esta banda italiana, num cruzamento inesperado, mas atraente entre o rock upbeat dos anos 70 e o stoner-groove dos anos 90, apanhou-me completamente.
Não vale a pena tentar pôr tudo em palavras; há coisas que só se fazem pela música. Convido-vos a ouvir, por exemplo, a Hawkdope e a julgar por vocês mesmos.
Dos também italianos Ufomammut só tinha ouvido elogios dos meus amigos e namorado, mas também não conhecia. Não posso dizer que tenha sido uma surpresa, porque os meus spoilers já tinham comentado o factor pesadão da sonoridade de Ufomammut. E com razão.
O concerto em si foi brutal, e a zona em frente ao palco Praia estava cheio (para padrões do Reverence) de gente hipnotizada pelo som esmagador do doom metal a transbordar de influências stoner-psicadélicas.
Fiquem com um ‘cheirinho’ em Odio.
Chegámos finalmente a Sleep, uma das bandas mais desejadas da noite de dia 28 de Agosto. Se não conhecem, não deixem que o nome vos induza em erro; ouvir Sleep dá tudo menos vontade de dormir. Pelo contrário, dá vontade de abanar o corpo e, sobretudo, a cabeça num headbanging bem ao ritmo que o stoner rock pede: algo lento, mas muito sentido ao som de músicas inesquecíveis como Dragonaut (pelo menos para mim, já que é uma das minhas favoritas de Sleep).
Ver Sleep foi uma experiência avassaladora em todos os sentidos, mesmo apesar do cansaço que já sentia. Afinal, sexta-feira também foi dia de trabalho durante a maior parte do dia. Trivialidades, quando se pensa que estamos a assistir a uma manifestação de talento por uma banda lendária no panorâma de bandas do Hall of Fame do doom e do stoner.
Dia 29
Depois de uma noite destas nunca pensei que o dia 28 conseguisse ser igualado. Superado não foi, mas o dia 29 não desiludiu nem um bocadinho.
Depois de uma manhã passada fora do Reverence, a explorar a Azambuja e um edifício abandonado em Valada (falarei sobre ele mais tarde, noutro post com as devidas fotos), passámos a tarde a conhecer algumas das bandas que antecederam os cabeças de cartaz da noite.
Estava com algumas expectativas para ver e ouvir a Miranda Lee Richards, mas acabou por não ser muito a “minha onda”.
Depois de (pareceram) horas a tentar desmontar a tenda e depois de um merecido banho refrescante (gelado, vá), siga para os concertos da noite!
Pelo meio conheci ainda os portugueses Sean Riley & The Slowriders a dar show no palco Reverence e a mostrar que (perdoem-me o cliché) “o que é nacional, é bom”.
Falar no Reverence Valada 2015 e não mencionar o concerto de Amon Düül seria quase criminoso, goste-se ou não. Esta banda alemã, que conta com várias décadas de existência (foi formada em 1967, vejam lá!) foi simplesmente hipnotizante em palco. Os membros da banda já não vão para novos (longe disso) e talvez por isso mesmo seja tão evidente o baile que deram em tantas bandas jovens do pedaço. A energia em palco, a cumplicidade entre os membros da banda e a qualidade musical da sua arte fizeram dos Amon Düül, na minha opinião, uma das bandas mais emblemáticas desta edição do Reverence Valada.
No início, o concerto que mais desejava ver no Reverence era o dos The Horrors, uma banda britânica com uma atmosfera muito própria, envolta no mistério da fusão de estilos como o gothic rock, shoegazing, garage rock, post-punk revival, etc.
Apesar de achar que não têm (ainda) uma presença em palco a igualar a de outras bandas também cabeças de cartaz, acredito que o seu distanciamento faz parte do mistério da banda e, no fim de contas, a música fala por si, assim como as expressões dos músicos, cuja entrega à sua arte é – de facto – inegável.
Gostei imenso de ver, pela primeira vez, os The Horrors e, se tivesse que vos recomendar uma banda que vi este ano no Reverence seriam eles, talvez por terem músicas com que mais gente é capaz de se identificar. Ou seja, não têm de gostar de um estilo específico para apreciarem algumas músicas de The Horrors, até porque não são músicas “da pesada”, não se preocupem. 😉
Experimentem ouvir a Who Can Say ou a Still Life para começar.
Mais uma vez, vou insistir que a atmosfera sentida e vivida no Reverence é indescritível, que é algo que se sente e se respira como em mais nenhum outro festival do país, mas claro, cada pessoa tem a sua experiência. Da minha parte, considero sem dúvida nenhuma que o RV é o melhor festival do país, aquele que facilmente conquistou o seu lugar na minha vida logo à primeira edição e eu nem sou fácil.
Se quiserem saber mais pormenores sobre os palcos, o público e atracções do festival, consultem o post do ano passado. 🙂
Para o ano, claro está, estou lá batida de novo!
6 Comments
Sofia Garrido
04/09/2015 at 4:17 AMQue bom que gostaste, Catarina! Havia 3 bandas que eu queria ter muito visto neste festival se tivesse ido (e cheguei mesmo a considerar ir quando as vi no cartaz)- Sleep, The Horrors, e Alcest que vi no Side B em Benavente há uns anos. Talvez vá para o ano, se o cartaz for igualmente interessante!
(Eu digo sempre isto de há uns anos para cá com festivais noutras cidades, mas depois quando penso nos inconvenientes do campismo e condições de higiene o meu eu comodista fala mais alto, talvez por ter tido uns bons aninhos seguidos de campismo em festivais e quanto mais velha fico mais prezo o conforto :p)
joan of july
13/12/2015 at 12:19 AMOlha que cheira-me que para o ano o cartaz vai ser brutal. 😉
E estou contigo quanto ao campismo. Por mim chega. Nem é pela idade, porque nunca na vida gostei de acampar, mas quando era mais nova e não trabalhava custava-me menos. Agora, nas férias ou fins de semana, ou seja, momentos de não-trabalho, quero é estar o mais confortável e divertida possível. Para além da falta de conforto no campismo, o calor torna a coisa ainda pior, já para não falar nos concertos que se ouviam ainda às 5 da manhã… E olha que eu durmo com tampões de silicone nos ouvidos… Enfim. Acampar? No thanks. Reverence: sempre, mas sem campismo.
(quem diz Reverence também diz qualquer outro festival no que diz respeito ao campismo)
Inês Silva
07/09/2015 at 6:02 PMAi tanto amor aqui <3 a 1ª foto de Ufomammut tá do caraças! Gostei imenso de ler as tuas reviews, pareces-me a pessoa indicada pra fazer isto neste tipo de música. Apesar de ter ficado a resabiar ter ficado em casa o teu post deu-me um cheirinho bom da coisa 🙂
Já agora, podes-me dizer se se pode simplesmente pedir uma pulseira Press ou o que se têm de fazer?
joan of july
13/12/2015 at 12:15 AMComo é que só vi este teu comentário hoje? :O Desculpa!! Vim à procura de umas fotos deste post e vi o teu comentário e o do Sofia que ainda não tinha visto. Que chatice, desculpa. :/
No site do Reverence havia uma secção para pedir acreditação e eu decidi pedir, já que também tinha feito reportagem no ano passado (embora sem acreditação). O pedido foi aceite e, ao chegar lá, dei o meu nome – que estava na lista – e colocaram-me a pulseira. 🙂
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