Esqueçam o Alive, o Rock in Rio, Paredes de Coura, o Sudoeste e os outros todos. Este foi o ano do Reverence Valada.
O quê? Não ouviram falar deste festival? Não estou admirada, afinal o Reverence não é um festival mainstream que traz a Portugal bandas conhecidas, como os que mencionei acima. O Reverence é uma espécie de spin-off das Cartaxo Sessions, a muitas das quais compareci ao longo deste ano e onde conheci bandas como Psychic Ills, A Place to Bury Strangers e Singapore Sling.
Destas três que me conquistaram, só A Place to Bury Strangers compareceu neste ano de estreia do festival Reverence Valada.
Fui completamente à descoberta, sem conhecer mais de metade das bandas que actuaram nos 2 (vá, dois e meio) dias de festival. Tenho gostado muito mais de descobrir bandas desta forma do que a partir do Spotify ou do Youtube. Ver bandas meio desconhecidas ao vivo causa-me um impacto que, de outra forma, não sentiria.
Mas, antes de passarmos às bandas, vou falar-vos um pouco deste festival e do porquê ser tão diferente dos outros que temos em Portugal.
A vila e o recinto
Tal como o nome indica, o Reverence situa-se na freguesia de Valada (concelho do Cartaxo) e o recinto fica nas margens do rio Tejo, o qual se pode avistar de dois dos palcos.
O recinto foi composto por três palcos:
- Palco rio – o primeiro que se vê mal se entra no recinto.
- Palco Sabotage – que recebeu o nome graças ao Club Sabotage, em Lisboa, responsável por festas psicadélicas e concertos onde se ouve exactamente o mesmo estilo de música e bandas que o Reverence.
- Palco Reverence – o palco principal.
O espaço de alimentação e outras atracções
Ao contrário do que acontece noutros festivais, no Reverence não encontram uma única marca. Nem um único McDonald’s, nem sequer um Psicológico. As marcas aqui não têm – pelo menos por enquanto – lugar. E isto tem um lado bom e um menos bom. Por um lado sabemos que estamos a encher os bolsos de pessoas da zona, que aproveitam a ocasião para trabalhar mais um bocadinho e fazer uns trocos extra. Por outro lado, a variedade não é muita e a multidão tende a aglomerar-se ao mesmo tempo à hora de jantar nos mesmos sítios.
Felizmente, descobrimos que, fora do recinto, virando à direita, existe um centro cultural que estava aberto e servia bifanas e caldo verde (ou canja). Mais uma vez, a variedade não era muita, mas a comida era caseira, os preços eram muito simpáticos e os funcionários também.
Como podem ver pelas fotos, a Feira das Almas também andou por lá. Acho que fez sentido, dado a natureza do evento e desta feira alternativa. 🙂
Os concertos
Não vou propriamente falar de tecnicidades nem nada que se pareça. Não sou entendida em questões musicais, só sei e só comento aquilo de que gosto, por isso se quiserem saber mais pormenores sobre a música e as bandas, vou recomendar-vos esta reportagem que a minha amiga Alexandra Silva escreveu sobre o Reverence numa data em que fazia sentido, ao contrário deste post mega atrasado.
Para ser muito sincera, uma das coisas de que mais gostei neste festival foi o facto de não ter estado sobrelotado como, por exemplo, o Rock in Rio ou o Alive. Este ano fui também ao Alive e tive, portanto, a experiência interessantíssima de ambos os festivais e que fez com que desse ainda mais valor ao Reverence.
Não é difícil perceber porque não estava cheio: se as bandas são pouco conhecidas e o evento nem foi divulgado na televisão generalista (que eu saiba), está explicado. E eu estou tão feliz que tudo tenha acontecido desta forma.
Foi completamente refrescante poder assistir a concertos com espaço à volta, podendo aproximar-me do palco se e quando bem me apetecesse, sem para isso ter que chatear alguém.
Para além disso, sempre era preciso descansar ou se a vontade fosse essa, era perfeitamente possível assistir aos concertos sentada na relva e, mesmo assim, conseguir ver o palco sem problema nenhum. Isto porque não havia um mar de gente. Neste aspecto foi perfeito!
As bandas
Tal como referi mais acima, não vou tocar em aspectos técnicos sobre a música; vou apenas referir algumas das bandas que conheci neste festival e das quais fiquei instantaneamente fã e outras que já conhecia, mas cujas actuações adorei ver no Reverence:
Graveyard
Uma banda sueca que já tinha começado a tocar quando entrei no recinto e que me cativou desde o primeiro acorde que ouvi. Depois do som mais pesado de Red Fang, os Graveyard emprestaram uma aura mais “blues” à noite de sexta-feira, dia 12 de Setembro, com uma sonoridade certamente inspirada pelos anos 70.
A ouvir: The Siren, Uncomfortably Numb
Red Fang
Uma banda de heavy metal oriunda de Portland, Oregon (USA) que já agraciou os nossos palcos lusos com a sua presença várias vezes, embora nunca os tivesse visto. Foi, provavelmente, o som mais pesado de dia 12 e uma das bandas de que mais gostei neste dia. Ficou automaticamente adicionada às minhas playlists do Spotify.
Electric Wizard
Das poucas bandas que já conhecia minimamente antes do Reverence e cujo concerto me deixou estupefacta. No bom sentido, claro. Electric Wizard é pura magia musical e eargasm total. Para mim, a sonoridade desta banda de Doom Metal formada em Dorset, Inglaterra, em 1993, é das que melhor caracteriza o espírito deste festival.
A ouvir: Funeralopolis, We Live
A Place to Bury Strangers
Já tinha visto A Place to Bury Strangers nas Cartaxo Sessions algures no início do ano, mas ver esta banda nova-iorquina em festival foi uma experiência totalmente diferente. Com direito a uma guitarra partida (intencionalmente) e outras peripécias em palco, não desiludiram com o seu som único, no qual se verificam fortes influências de shoegaze, classic indie rock e post-punk.
A ouvir: You Are the One, Keep Slipping Away
The Black Angels
E como não mencionar os Black Angels, uma das maiores referências na cena do rock psicadélico? Deram um concerto irrepreensível, onde relembrei temas como Young Men Dead e Bad Vibrations.
A ouvir: Young Men Dead, Bad Vibrations
The Wytches
Juntamente com Graveyard, a maior revelação deste festival. Na minha humilde opinião, claro, que vos escrevo apenas do que gosto e não por perceber de música.
Comecei a ouvir the Wytches ao longe, fora do recinto à hora do jantar. Escutando a voz, ao longe, a voz de Kristian Bell, a cantar “Digsaw”, a primeira referência que me veio à cabeça foi “Kurt Cobain!”, embora mais de perto essa ligação fique mais difícil de restabelecer. Não o digo em tom depreciativo, nada disso. The Wytches têm um som muito próprio e que me convence a pô-los na lista de “band to watch”.
A ouvir: Digsaw, Part Time Model
Em jeito de conclusão
Para terminar, só posso mesmo concluir que esta estreia do Reverence Valada foi um sucesso e um evento absolutamente inesquecível. Nunca antes me tinha sentido tão à vontade e confortável num festival. Posso dizer que no Reverence me senti em casa.
Fico então a aguardar ansiosamente a edição de 2015. Sim, porque não concebo outra hipótese que não seja este festival ter uma segunda edição.
Ah, e espero também que continue igual no que diz respeito ao número de festivaleiros a frequentá-lo. Isso sim, seria perfeito!
P.S.- Se quiserem podem seguir a minha playlist “Road to Reverence” no Spotify. Não tem apenas bandas do Reverence, mas sim outras que vi nas Cartaxo Sessions e que estou convencida que, mais ano menos anos, aparecerão pelos palcos de Reverence. Não tenho dúvidas.
6 Comments
Inês Silva
25/10/2014 at 4:20 PMEu já sabia que ia ficar a chorar ao ler o teu post, mas depois aparece-me os Electric Wizard e não aguentei! Queria taaaanto ter ido :c
joan of july
01/11/2014 at 5:50 PMOhhh… Espero que consigas ir para o ano (deduzo que façam de novo), vale mesmo a pena, Inês! P.S.- Tens bom gosto. ;D
Inês Silva
08/11/2014 at 11:15 AMai fico mesmo a torcer que façam! hahah obrigada ^^’