Pouco após o início da minha experiência como copywriter numa agência de marketing digital, em 2018, listei 8 vantagens em trabalhar numa agência de marketing digital. Nada mudou, mantenho o que escrevi, mas apercebi-me recentemente da importância de falar também do reverso da medalha. Como tudo na vida, há pros e contras. Este é o artigo sobre o contra. O outro, podem encontrar aqui.
Começar tarde e tarde sair
Um dia típico numa agência, pode começar mais tarde do que numa empresa mais tradicional. Nada de extraordinário, atenção. Imaginem: entram por volta das 10h da manhã, mas… não têm exatamente uma hora para sair. Dependendo da carga de trabalho, se não forem vocês a decidir que o vosso dia de trabalho terminou, pode parecer que ele não tem um fim.
Carga de trabalho altíssima
Nunca fui uma pessoa que tivesse “medo” do trabalho. Sempre abracei desafios e situações desconhecidas, umas mais desafiantes do que outras, o normal. Já fui declaradamente workaholic e já abdiquei de várias coisas importantes na minha vida pessoal por causa de trabalho. Contudo, cheguei a uma altura da vida em que já não me faz sentido fazê-lo. Eu trabalho para poder viver bem, com as pessoas que amo e a fazer aquilo que me faz feliz (sempre que possível); não vivo para trabalhar, sacrificando o que é importante para mim.
A minha primeira experiência em agência (Out. 2018 – Ago. 2021) ensinou-me a priorizar aquilo e aqueles que são importantes para mim.
Criatividade sob pressão
No início da minha experiência em agência, vi isto como uma vantagem, um exercício para o cérebro, que tinha que ligar e desligar o chip de acordo com o cliente que estava a trabalhar. Após 3 anos, senti exatamente o oposto: que a Criatividade precisa de tempo e espaço para fluir e que prazos demasiado apertados castram e cortam o fluxo sanguíneo a quase qualquer impulso criativo.
O desgaste mental e criativo é uma realidade que me incomoda no trabalho de agência quando se tem demasiados clientes para trabalhar… Sempre foi importante para mim ter projetos criativos e mesmo outros trabalhos como freelancer fora do meu trabalho “normal” e, em agência, isso nem sempre é possível, pois ao final do dia é habitual estarmos absolutamente drenados de ideias e de energia.
A cláusula de exclusividade
Por falar nisso, em muitos contratos-tipo celebrados por e em agências, é muito normal existir uma cláusula que nos impede de trabalhar na mesma função para outras empresas e clientes. Já assinei um contrato deste género e cuja importância da cláusula era reforçada internamente várias vezes.
Na atual agência em que trabalho, negociei esta parte do contrato para poder trabalhar para fora, o que foi perfeitamente aceite e acordado entre ambas as partes.
O salário
Tenho a certeza que já ouviram falar que não se ganha assim tão mal em agência. Claro que isto depende e varia muito, mas sim, de um modo geral não se ganha extremamente mal. O problema não é esse. O problema é que, aquilo que se ganha, em muitos casos, não compensa de todo o stress e as horas longas (e extra) trabalhadas. Na minha opinião, claro. Para mim, dinheiro não é tudo, e se puder ganhar mais a trabalhar (nem digo menos) horas normais, é o ideal!
Falta de reconhecimento
Aqui, não me refiro a falta de reconhecimento por parte das chefias (que pode ou não acontecer, tal como em qualquer outro trabalho), mas sim no que diz respeito à nossa autoria. Passo a explicar; estava habituada a assinar as minhas peças enquanto pseudo-jornalista em início de carreira e enquanto Content Writer, mas quando comecei a trabalhar como Copywriter, isso mudou. Um bom copywriter pode vir a ser conhecido, claro, mas à partida ninguém vai saber que fomos nós que escrevemos o copy do anúncio/post x ou y. É normal, vem com o território, mas é uma adaptação quando estamos a tentar construir uma identidade profissional e chegamos de outras “terras”.
O trabalho é demasiado romantizado
Emily in Paris, anyone?
O facto do trabalho em agência ser romantizado não é um exclusivo desta área, eu sei, mas tenho sentido muito isso em anos recentes e acho que as séries e filmes não mostram, de todo, a parte menos boa da coisa.
Já quis ser jornalista em revistas femininas (há muitos anos, note-se) e sinto que grande parte desse desejo foi motivado pelos filmes da altura em que a única parte má do trabalho era uma chefe mázona estilo Meryl Streep no filme “O Diabo Veste Prada”. Agora, nesta era do digital, sinto exactamente o mesmo por parte deste tipo de entretenimento. Falta mostrar o lado menos bom, que todos os empregos têm.
Sem grandes prospeções de carreira
Antes que me “ataquem”, faço o disclaimer: sim, eu sei que não é assim em todo o lado. Não devia ser preciso dizer isto, ok? Agora, o que sinto que acontece várias vezes e em várias agências, é que entramos com um papel e ficamos “presos” ao mesmo para sempre (para sempre = enquanto lá estivermos).
No meu caso, lá porque entro como copywriter numa empresa/agência, não quer dizer que queira ser “apenas” copywriter lá dentro para sempre. Lá está, isto não é um assunto para algumas pessoas e está tudo bem, mas para me sentir motivada durante muito tempo, preciso de aumentos salariais, claro, mas também de saber que tenho a hipótese de explorar outras valências (gestão de equipas ou projetos, por exemplo) e rumos profissionais dentro da mesma empresa.
É por esta última razão que sinto que há tanta movimentação dentro da minha área. Pessoas a entrar e a sair constantemente e em pouco tempo dentro das agências, quero dizer. Da nossa parte, enquanto profissionais, acho maravilhoso não nos acomodarmos e procurarmos sempre mais e melhor. Da parte das agências – de um modo geral – gostava de ver que se esforçam mais por manterem quem lá têm e que tanto talento lhes oferece. 🙂
Se gostaram deste post, aconselho também a leitura do reverso da moeda, o “8 Vantagens em trabalhar numa agência de Marketing Digital“, mas também o “Porque se despedem os Millennials“.
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