Odeio frases feitas e frases “inspiradoras”. Não posso com elas. Acho-as uma espécie de filosofia barata e que a maioria das pessoas que as partilha nem entende bem o significado. Há excepções, tanto para as pessoas como para as frases. A minha excepção é “Happiness is not a destination, it is a way of life.” Não é a associação de palavras que me fascina particularmente, mas sim o facto de resumir tão bem aquela que poderá bem ser a maior e melhor lição que aprendi este ano.
Felicidade ou momentos felizes?
Até há relativamente pouco tempo, a história era a inversa e sim, a felicidade parecia um destino; destino esse alcançável apenas se tivesse mais dinheiro, mais sucesso, se viajasse mais, fizesse mais, fosse mais, vivesse mais. Um disparate. Alguém pode viajar ao passado, de cinco a 10-11 anos atrás, e dar um par de chapadas à Catarina de outros tempos por mim? É que era meio estranho se fosse eu.
Não quero aqui apregoar qualquer tipo de moralismos, nem de dar uma de “subitamente sábia” nem nada disto está envolto em qualquer mistério. Na verdade, tudo isto é muito simples. Se passarmos a vida a equacionar uma série de factores que, reunidos, nos abririam a porta da nossa suposta felicidade, vamos andar eternamente desiludidos e, aí sim, infelizes.
Identificar como “felicidade” o alcance de certos objectivos é meio caminho (ou mais) andado para a frustração. O que é que acontece assim que atingimos os objectivos dos quais depende a felicidade? Rapidamente se instala novamente a apatia assim que passa o sentimento inicial. E a felicidade esmorece, porque não era felicidade verdadeira sequer. E é, também, por isso que é importante saber distinguir a felicidade de momentos felizes.
Saber distinguir entre estas duas coisas faz parte da minha grande lição deste ano. O resto do conhecimento chegou sob a forma de reconhecimento de que a felicidade é um modo de vida ou um modo de estar na vida. Um dia, sem aviso, soube que era feliz. Que mesmo que não seja melhor, mais rica, mais bonita ou mais interessante e viajada, sou feliz. Não deixo de querer todas essas coisas e mais algumas, mas a minha felicidade pura e simplesmente não depende delas. Sou feliz agora, como sou e com o que tenho e não tenho ainda.
O pressuposto da fragilidade da felicidade
Isto não quer dizer que ande sempre feliz e contente a cantarolar pelos montes, qual Heidi nas Montanhas; de vez em quando tenho momentos menos felizes, como qualquer pessoa. Mas são momentos tristes e esporádicos, não são uma constante na minha vida. São efémeros e fugidios como a falsa felicidade que se sente unicamente quando alcançamos um objectivo qualquer do qual achamos que depende a nossa felicidade.
Ainda assim, a minha visão da felicidade assenta também no pressuposto da sua enorme fragilidade. Dou-lhe tanto valor precisamente por saber que, a qualquer momento, tudo pode desmoronar à minha volta. Não preciso de enumerar as calamidades que poderiam eficazmente acabar com a minha felicidade, mas o perigo – claro – existe sempre, tal como a eminência da morte existe também e não é por isso que deixamos de viver as nossas vidas. Com a felicidade é a mesma coisa. Sabemos que pode acabar um dia, mas até lá vamos continuar a viver e a ser felizes.
E como não dar valor às coisas boas da minha vida quando sei (ou consigo imaginar) como seria se não as tivesse? E por “coisas” refiro-me a pessoas. Desculpem-me, coisas pessoas boas da minha vida.
Onde está – afinal – a felicidade?
Não preciso de vos lembrar o quão diferentes somos uns dos outros e o quanto sentimos as coisas de formas diferentes, mas posso dizer-nos onde encontro a minha felicidade. Peço desculpa se vou soar demasiado cliché ou como um desenho animado da Disney, mas tudo o que vos digo aqui é a mais pura verdade e não sei como pôr estas coisas em termos menos ranhosos e lamechas.
Mas a verdade é que quase qualquer coisa tem o poder de me deixar feliz hoje em dia. O pôr do sol que ainda consigo ver todos os dias (antes que a hora mude) a partir das varandas lá de casa, quando o Loki se roça das minhas pernas, uma mensagem inesperada de amigos que moram longe e com os quais não falo – infelizmente – muitas vezes, um episódio novo de uma das minhas séries favoritas, livros (sempre!), a perspectiva de um novo projecto, ir de autocarro da Rede Expressos de Lisboa ao Porto com aquelas três horas e meia só para mim, para descansar, dormitar e fazer algo que nunca faço: nada. Só ouvir música, mais nada.
São coisas minúsculas, mas que no final de contas, me sabem pela vida.
8 Comments
Sara Trigo
28/10/2016 at 10:44 AMEngraçado, porque aprendi e atingi isso mesmo também este ano. É realmente bom sermos felizes com as pequenas coisas da vida, por mais insignificantes que parecessem anteriormente.
joan of july
28/10/2016 at 11:56 AMExacto! É tão bom chegar a esta conclusão e sentir felicidade genuína nas mais pequenas coisas, não é? 🙂
Aliás, foi precisamente sobre isso que falámos daquela vez que fomos ao Martim Moniz com a Joana, não foi? 😀
Sara Trigo
31/10/2016 at 11:43 AMFoi sim 🙂 E sim, é maravilhoso!
Daniela Soares
28/10/2016 at 2:56 PMEste texto vem mesmo a calhar Catarina. Eu por acaso sou fã de frases inspiradoras, mas das frases certas, claro, e daquelas que trazem motivação e felicidade e não daquelas que se publicam no facebook para alimentar a “pena” que temos de nós mesmos e da vida nos correr mal.
Recentemente também estou a descobrir tudo o que partilhaste aqui, por muito cliché que seja. A verdade é que senti que fui trabalhando para alguns objectivos e foquei-me tanto no objectivo e tão pouco no caminho que quando chego ao fim fiquei perdida porque não havia continuação.
Ainda assim também tenho a noção que sou feliz e consigo encontrar a felicidade nas pequenas coisa, só tenho é que estar ainda mais atenta a elas.:)
beijinhos
Another Lovely Blog!, http://letrad.blogspot.pt/
joan of july
28/10/2016 at 3:56 PMMuito obrigada, Daniela, fico muito feliz por saber que este texto te disse algo e que te revês nesta descoberta de alguma forma. Eu sei que não estou sozinha nisto e só espero que muito mais pessoas consigam ver beleza e felicidade nas pequenas coisas. Ajuda tanto a ser feliz no dia a dia, especialmente quando não acontece nada de especial (que, sejamos honestas, são quase todos os dias!). Se estamos à espera de ser felizes quando acontecer algo “em grande”, depois do impacto inicial, o que é que sobra? Daí ser tão importante dar valor às pequenas coisas. 🙂
E é como dizes, é uma questão de andarmos mais atentas a elas. :D**
Catarina
31/10/2016 at 9:04 AMSou um pouco como tu, não tenho paciência para “frases inspiradoras” ou tretas desse género. Mas, também como tu, gosto dessa frase e concordo a 100% com o que dizes. Embora, para mim, essa descoberta já tenha uns anos (confesso que, em pequena, dizia praticamente todos os dias “esta vida é mesmo boa!” – agora não o digo tão frequentemente, mas ainda o penso e sinto), fico muito contente que tenhas chegado a estas conclusões. Sinto que as pessoas não dão valor suficiente a estas pequenas coisas da vida – que são tão maravilhosas! – e que andam constantemente em busca do próximo objectivo a ser realizado. Não me interpretem mal, também eu tenho objectivos e sonhos e adoro quando os consigo alcançar! Mas aproveito o caminho, todos os dias. A cor do céu, o cheiro a terra molhada (onde andas chuva? Quero sentir este cheiro novamente), a lua cheia a brilhar, uma manta e um chá quentinho, um filme maravilhoso que nos deixa a pensar, um livro que nos transporta para uma outra realidade, uma palavra amiga de alguém que nos diz muito, um beijo de boa noite…
Jo Cardoso
03/11/2016 at 8:02 PMComeço a acreditar que 2016 foi um ano que trouxe um monte de sabedoria acrescida a imensa gente, inclusive a mim. 😀
Curiosamente, a pior coisa de partir um tornozelo não é a dor - Joan of July
22/10/2019 at 11:28 AM[…] A maior lição que aprendi este ano […]