No mês passado tive um fim de semana diferente do habitual e completamente dedicado a conhecer melhor a zona da Beira Baixa. Por vezes, é fácil esquecermos-nos de que Portugal, por pequenino que seja em tamanho, oferece-nos uma imensidão e variedade de paisagens naturais lindíssimas.
Temos planícies verdes banhadas pelo sol e onde prosperam oliveiras, temos vales verdejantes cortados a meio por rios, temos montanhas rochosas imperdoáveis e fustigadas pelo tempo e pelos elementos e ainda praias de cortar a respiração.
Mas este post que vos trago é rico em montanhas e rios, já que o passeio foi pela Beira Baixa. Ficámos alojados numa aldeia de xisto chamada Janeiro de Cima e embarcámos numa aventura de trekking. Conheçam algumas localidades por onde passei mais abaixo. 🙂
Orvalho
Orvalho é uma aldeia lindíssima que pertence ao concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco. Após termos chegado a Janeiro de Cima numa sexta-feira de noite, decidimos começar (relativamente) cedo o dia seguinte para fazermos um percurso pedestre que já tínhamos andado a investigar antes. Sempre quisemos experimentar fazer trekking para o meio da natureza, por caminhos desafiantes que conduzem a paisagens magníficas. E assim foi, mas não sem uma mão-cheia de dificuldades pelo caminho (se bem que é assim que tem piada, não é? 😀 )
Depois de estacionarmos o carro naquela que parecia a rua principal da aldeia de Orvalho, começámos a seguir os sinais de trilho. Toda a gente já os viu, de certeza; são aqueles dois traços, um amarelo, outro vermelho, normalmente desenhados em paredes.
O percurso escolhido foi o PR 3 OLR – GeoRota do Orvalho. Eis a descrição da Câmara Municipal de Oleiros deste percurso:
“O itinerário deste percurso apresenta um conjunto de espaços nobres onde a paisagem aliada ao saber fazer das suas gentes, são um óptimo tónico para fugir ao stress dos meios urbanos. Inserindo-se no território Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, este roteiro contempla a passagem pelos geomonumentos classificados pela UNESCO que existem na freguesia de Orvalho. Tradição e cultura aliam-se em comunhão com a Natureza, onde excepcionais afloramentos rochosos, passando por locais emblemáticos, são só o mote para a descoberta de refúgios mágicos. Pelo meio, testemunha-se o correr das águas cristalinas das ribeiras e das nascentes da montanha, confundido-se com os melodiosos cantares dos pássaros, embriagados pela pureza intocável dos locais. O percurso convida assim ao mais puro reencontro com a Natureza, remetendo para outros tempos que se pensava não ser possível alcançar.”
Esta descrição é só perfeita!
Oh sim, cascatas e ribeiros bonitos de águas cristalinas não faltaram!
Reparem só nas escadas de pedra que acompanham a subida do monte (foto acima)!
Esta subida matou-me. Aliás, este percurso não é exactamente aquilo que eu classificaria de fácil, uma vez que tem quase 1 km. de subida e sempre por chão irregular, com pedras, terra, vegetação e, no caso dos cursos de água, pedras e madeira escorregadias. Para além disto tudo, ainda apanhámos uma espécie de transbordo de água e várias partes do trilho, uma vez que tinha chovido muito recentemente (e até naquele mesmo dia), pelo que fiz – provavelmente – mais de metade do trilho com os pés todos molhados. ;_;
Mas, apesar disso tudo…
Valeu a pena.
Esta não é a melhor vista do final do percurso, mas foi a última coisa que vi depois de virar costas e dirigir-me novamente para o centro de Orvalho, desta vez, pela estrada.
Depois de 2h30/3h a andar, fomos reabastecer energias num restaurante local, não muito longe de Orvalho. Um dos objectivos do fim de semana, para além de desligar da vida urbana e experimentar fazer trekking, era também conhecer melhor a gastronomia da Beira Baixa.
Garganta do Zêzere
A seguir ao almoço, continuamos o nosso caminho rumo à segunda paragem do dia: a Garganta do Zêzere.
Já no ano passado vos tinha falado do Zêzere e da beleza das paisagens beijadas por este rio (neste post), mas tive agora uma nova oportunidade de conhecer mais das suas paisagens e da sua natureza circundante.
“As escarpas quartzíticas da Garganta do Zêzere são impressionantes camadas sucessivas de quartzito puro erguidas verticalmente a centenas de metros de altitude, ladeadas por caóticos depósitos de vertente escorridos até às margens do rio Zêzere. São registos de uma colisão entre continentes no passado, onde o rio Zêzere foi sucessivamente escavando e encaixando o seu leito.”
A paragem neste spot da Garganta do Zêzere foi breve, mas deu para apreciar bem a beleza deste sitio, ao qual as fotos não fazem minimamente justiça. E a culpa nem é minha! É que recentemente apercebi-me de que a imensidão de uma paisagem não é fotografável, assim como a sua imponência e beleza. Por mais bonita que uma foto seja, nunca chega aos calcanhares daquilo que vejo e sinto quando estou fisicamente no local em questão.
Isso também vos acontece?
Álvaro
Ahhh… Álvaro. A linda aldeia que eu nem sabia que íamos visitar ou sequer que existia. A seguir à visita à Garganta do Zêzere e de uma breve paragem novamente em Janeiro de Cima, lá fomos nós estrada fora até Álvaro. E por falar em estrada fora, reparem na foto abaixo e no vapor de água a levantar-se do asfalto. Foi uma visão constante (e bonita) durante todo esse fim de semana. Como choveu imenso e o sol estava quente, era frequente vermos a água a evaporar e a formar uma espécie de neblina.
Mas voltando a Álvaro.
“A aldeia de Álvaro estende-se lânguida e serpenteante ao longo do viso de uma encosta sobranceira ao Rio Zêzere, acomodada na albufeira do Cabril. Avistada do alto da magistral paisagem que a circunda, parece uma alva muralha que guarda a passagem do rio. É uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias do Xisto. Isto não significa que o material de construção predominante não seja o xisto. Apenas que a esmagadora maioria das fachadas dos edifícios está rebocada e pintada de branco, apresentando, aqui e ali, vãos de cores garridas.”
E sim, o rio continua a ser o Zêzere. 🙂
Álvaro foi uma enorme e bem-vinda lufada de ar fresco. Como também não sabia que lá íamos, vê-la assim, linda, cheia de luz, cores e água, deixou-me radiante. Já lá foram alguma vez? Se não, merece a visita, acreditem! Não só a aldeia é lindíssima, como as vistas para o Zêzere são absolutamente imperdíveis.
Miradouro do Zebro
Este miradouro recebeu a nossa visita no dia seguinte, domingo. A caminho de Oleiros, onde íamos almoçar, decidimos parar aqui. Eu não fazia ideia de onde estávamos ou que sítio era este, mas deixei-me ir, sempre de câmara na mão, claro. 🙂
Para ser sincera, esta passagem deu-me nós no estômago. Havia este corrimão, é certo, mas este dava-me pela cintura ou acima, ou seja, dava a sensação de que poderia cair pelo meio, algo em que só pensei dada a altitude. Para além disso, mais para a frente o corrimão termina, mas o caminho continua. Se aqui vierem algum dia e se tiverem vertigens, não vão achar piada nenhuma a esta passagem. 😛
“O Miradouro situado em plena serra do Muradal é um espaço de magníficas e deslumbrantes panorâmicas sobre a envolvente da serra de cristas quartzíticas, onde impera uma densa vegetação, nomeadamente urzes, tojos, rosmaninhos, estevas, giestas e medronheiro. Por este motivo, é desde há muitos anos, um local emblemático para as gentes locais.
Conhecido por Miradouro o Zebro, o seu nome deriva do nome da escarpa que lhe dá origem (no topo da qual se situa um marco geodésico a assinalar 888m de altura […] O zebro era uma espécie de cavalo selvagem, possivelmente da mesma linhagem do cavalo Sorraia, que viveu na Península Ibérica até ao séc. XVI. “
Porém, e correndo o risco de me tornar repetitiva, o caminho vertiginoso vale a pena percorrer para vislumbrarmos, por fim, mais uma obra-prima da natureza. É em locais como este que nos apercebemos do quão pequenos somos e do quão sumptuosa e imponente é a natureza. Pode parecer cliché, mas não é por isso que deixa de ser verdade. 🙂
Portas de Almourão
Após a visita ao miradouro do Zebro, almoçámos em Oleiros como previsto – mais uma vez apenas comidas tradicionais da Beira-Baixa- para, depois, nos perdermos (literalmente) por estradas estreitas, de terra, entre uma montanha e um desfiladeiro que ia dar a um rio. Nada assustador. Obrigada GPS! 😛
Andámos que tempos à procura de um sítio que nem sabíamos como se chamava, mas onde tínhamos estado anos antes. O sítio era tão lindo que nunca nos saiu da cabeça, pelo que tínhamos que tentar voltar agora que estávamos na zona.
Acabámos por ir dar a um trilho que passava pelas Portas de Almourão. Rapidamente nos apercebemos de que não era esse o sítio, mas que o trilho iria eventualmente lá dar. Mas nesse dia ficámos mesmo pelas portas de Almourão, embora com a promessa de voltarmos e percorrermos o trilho como deve ser, algo que não fizemos naquele momento por já estar a ficar um bocado tarde para voltar para Lisboa.
“Miradouro que dá a conhecer as Portas de Almourão. São dois picos quartzíticos, um em cada lado do rio Ocreza, por onde as linhas de água conseguiram abrir caminho e formar esta paisagem irregular.”
– Igogo
“Pela encosta escarpada da Serra das Talhadas, ao longo do rio Ocreza, pode observar o Vale do Almourão, com as suas “portas” integradas no Geopark Naturtejo. A fauna é diversificada, tratando-se de uma zona de nidificação de grifos e onde facilmente se encontram abutres e cegonhas pretas.”
Neste último Geopark Naturtejo existem vários trilhos, mas o que quero mesmo fazer na próxima visita é o “Viagem aos Ossos da Terra”, um percurso com 18 km (6h de caminhada). Só de pensar já fico com os músculos doridos… ahahaha.
Mas a verdade é que adorei a experiência do trekking, de percorrer caminhos por entre vales, montanhas e vegetação densa, enquanto exploro (e fotografo) a natureza e conheço melhor as maravilhas do nosso país, que tanta variedade de paisagens nos oferece, conforme enumerei no início deste post, pois no conteúdo do mesmo o tipo de paisagem não varia muito. 😛 Talvez em breve possa variar ao trazer fotos de praia? Melhora tempo, por favor, chega de chuva!
De qualquer modo, espero que tenham gostado! 😀
Já conheciam estas maravilhas da Beira Baixa? Já estiverem por aqui também? Já fizeram trekking? Gostam? Contem-me tudo e sugiram-me rotas! 🙂
6 Comments
Joana Sousa
09/05/2016 at 11:23 AMEsta é uma zona que não conheço muito bem, e pe4las fotos merece mesmo a visita! Mas o que fez faz mesmo pensar é que tenho imensas saudades de fazer um trilho – acho que já lá vão perto de dois anos desde que fiz uma caminhada a sério na Natureza!
Jiji
Daniela Soares
09/05/2016 at 11:28 AMSem dúvida um dos meus objectivos para este ano foi conhecer melhor Portugal porque realmente muitas vezes esquece-mo-nos da beleza que está mesmo ao nosso lado. Ficaste com fotos incríveis e certamente com memórias fantásticas também.:)
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Inês
09/05/2016 at 12:09 PMÉ incrível a quantidade de sítios maravilhosos que existem por esse país fora. Não conheço esta zona mas fiquei com vontade de passear por lá =)
Daniela Salvador
09/05/2016 at 11:20 PMCada local mais bonito que o outro. Concordo contigo uma fotografia por melhor que seja não consegue fotografar a imensidão de uma paisagem.
Maria
12/05/2016 at 12:26 PMAs fotografias estão mesmo fantásticas. Eu já fiz caminhadas deste género, mas tornaram-se um pouco em tortura por ter estado demasiado calor. Para mim, estas são melhor feitas em clima seco e fresco.
E é verdade. As fotografias acabam por capturar só uma parte da realidade. Há sempre muito que fica por dizer nelas.