Acho que não tenho nenhuma memória de algum Natal que não tenha passado no Penedo. O Penedo, ou mais vulgarmente conhecido como Casa ou Quinta do Penedo, é a casa de campo da minha família há já algumas gerações. É uma casa grande e antiga, cheia de quartos, armários, portas para outras divisões que à primeira vista nunca diriam que existem, mas principalmente cheia de histórias e memórias.
A casa do Penedo não é só uma casa de fim de semana ou de feriados para onde vinha com os meus pais quando era pequena. Não. Com o passar dos anos, tornou-se também no meu refúgio das férias enquanto adolescente, onde fazia festas e passava algumas semanas com os meus amigos.
Fizemos fogueiras num dos campos em volta da casa, contamos histórias, tocamos guitarra e cantamos as nossas músicas de sempre entre momentos de amizade que acreditávamos serem para sempre.
Foi nesta casa que dormi pela primeira vez longe dos meus pais quando já tinha idade para decidir (já devia ter uns 5 anos). Lembro-me perfeitamente de estar no mesmo sofá onde estou sentada agora a escrever isto e estar a lutar contra as lágrimas para que ninguém percebesse que afinal ainda não era uma menina crescida. Mas ninguém viu e, no dia seguinte, chegaram os meus pais com uma prendinha para mim, só por me ter portado bem.
E também foi nesta casa que descobri as minhas primeiras grandes paixões literárias. Onde fazia experiências “científicas” e tentativas de fazer perfumes com flores e ervas que encontrava. Onde aprendi a andar de bicicleta e onde fingia, no meio das florestas circundantes, que fazia parte dos cenários mais mágicos dos meus livros favoritos.
Por vezes, no dia de Natal – quando era mais nova – dizia que ia à floresta para ir colher lenha miúda para a lareira. A família ficava grata e, francamente, um pouco surpreendida pela menina da cidade decidir por livre e espontânea vontade ir apanhar lenha, mas a minha verdadeira intenção era percorrer o caminho até à floresta na companhia do meu discman (ah pois) e um CD da banda sonora do Senhor dos Anéis que me transportava para aquele universo de criaturas fantásticas e missões impossíveis.
Só aqui é que sentia esta magia. Às vezes acho que é por causa deste sítio que não cresci exactamente igual a todos os miúdos da minha idade. E isso foi bom.
Também foi bom hoje ver o meu primo de 5 anos mostrar-me o interior da árvore como a sua “casa da árvore” onde brinca com um amiguinho dele e onde escondem “tesouros” e preparam armadilhas para o irmão mais velho do amigo. Mal sabe ele que não foi o primeiro a apelidar a árvore de “casa” e a olhar para ela como se tivesse imensos segredos escondidos. Provavelmente nem fui eu, nem muito menos o meu irmão, mas lembro-me de trepar pelos seus galhos infinitos e sentir que era uma espécie de Avó Willow para mim.
Escondi-me no meu pequeno mundo dentro daquela árvore até (provavelmente) aos 18 anos, mas nessa altura já me fazia acompanhar pelo Songs for the Deaf dos Queens of the Stone Age.
Se calhar é por isso que, mesmo hoje em dia, me mantenho fiel à criança que fui, com a excepção de que agora sei apreciar muito mais pormenores como só um adulto consegue fazer. Um dia, algures durante a minha infância, jurei a mim mesma nunca crescer; não de verdade. Disse a mim mesma que, por dentro, nunca me deixaria crescer completamente. Hoje, aqui no Penedo após um breve momento de introspecção, constatei que não iria decepcionar o meu eu criança se alguma vez os nossos caminhos se cruzassem como num filme de ficção científica.
Já começo a divagar, mas ainda assim penso que consegui expressar um bocadinho daquilo que o Penedo representa para mim. 🙂
Se pesquisarem por Casa do Penedo no Google rapidamente vão descobrir que, na parte de baixo da casa, temos um Hostel – o Stone Farm Hostel – onde serão muito bem vindos se algum dia quiserem vir para os lados de Airães, que faz parte da Rota do Românico do Tâmega e Vale do Sousa.
Pronto, deixo-vos com este último apontamento cultural. 😉
5 Comments
Ana Couceiro
26/12/2014 at 4:41 PMGostei tanto deste post Catarina! Não só pela casa que é linda, mas sobretudo por te conhecer um pouco mais 🙂
joan of july
01/01/2015 at 7:46 PMTão querida, Ana, muito obrigada! :D*
Analog Girl
26/12/2014 at 6:25 PMQue bom teres essas memórias todas acumuladas num só lugar. Eu tenho algumas da minha “terrinha”, já lá para Sul, onde me deixava levar pela imaginação e onde quase volto a ser criança. Nos últimos tempos não me consigo desligar dos problemas de adultos, mas quero voltar a esse lugar onde fui feliz, à minha criança interior, o mais depressa possível… 🙂
joan of july
02/01/2015 at 11:08 AMPercebo perfeitamente o que dizes com os “problemas de adultos” e também já senti o mesmo várias vezes e mesmo este ano não os esqueci, mas consegui deixá-los brevemente de lado. Espero que seja um talento para ficar. 😉
Espero que consigas reencontrar a tua criança interior da próxima vez que lá voltares. :D*
O melhor de 2020 - Joan of July
02/01/2023 at 5:25 PM[…] Voltei ao Penedo; […]