Não escrevi este texto agora, mas hoje cruzei-me com ele e continuei a rever-me em todas as linhas. Sei que já quase ninguém lê isto, mas algo me disse que era importante partilhá-lo aqui.
Chega a ser engraçado o quanto um simples “olá” consegue ser assustador. Ou melhor, pensar em dizer olá a alguém a quem não sabemos se o irá corresponder.
Falo por mim, claro, mas só a indecisão de dizer ou não olá a alguém que perdemos há muito para a vida, consegue, por si só, dar-me a volta ao estômago.
A maioria das vezes – se não todas – acabo por escolher passar por ti, anónima, ou assim penso que o sou. Apesar de te reconhecer após todos estes anos, algo dentro de mim diz-me que tu não serias capaz do mesmo, de me reconhecer a mim.
E como também não me falas, deve ser verdade.
E aí a minha cabeça inunde-se de dúvidas.
“Será que fiz bem em não lhe falar?”, “Será que se eu tivesse dito olá, me teria falado?”, “Será que me reconheceu?”, “Será que me acha uma antipática arrogante por não ter dito nada?”
Sei que não tenho o ar mais simpático do mundo, especialmente quando não sorrio. O meu rosto relaxado assume características de um estado de espírito que nada tem a ver com o meu e é bem capaz de convencer toda a gente que se cruza comigo de que estou a viver um dia particularmente mau.
Desculpa-me por isso. Eu queria sorrir-te ainda mais do que dizer-te olá, mas não consegui. Não consigo. Não sei o que fazer. A distância levou-me memórias, criou abismos entre nós e agora não faço ideia de como sequer começar a construir uma ponte. Dizem que se começa com “olá”, como se fosse assim tão simples.
Se um dia leres isto e perceberes que é para ti, quero que saibas que tenho visto o que fazes e o que já alcançaste na vida. Fico feliz por isso e atrevo-me até a confessar orgulho em ti, mesmo que não tenha qualquer direito de o fazer. Mesmo que nada signifique para ti.
Mas eu cá prefiro viver na ignorância e acreditar que o meu fascínio pela tua arte te interessa e, na loucura, que até te comove.
E é por isso que não te posso dizer olá. Se o fizer e não o obtiver de volta, saberei que assim não é, que te tornaste numa pessoa diferente.
Por isso, desculpa. Posso nunca mais te falar mas, se passares por mim, não te esqueças que o meu silêncio não passa de um misto de medo e de vergonha e que, acima de tudo, te admiro.
Sei agora que algumas pontes nunca serão reconstruídas e que alguns caminhos se extinguem para sempre. Mas também sei que se me cumprimentares, nunca te deixarei no silêncio.
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