Tenho dado por mim a pensar bastante nas minhas amizades actuais. Lembro-me de uma vez, quando tinha uns 11/12 anos, ter encontrado uma placa de madeira algures na minha quinta e de lá ter tentado escrever a giz os nomes dos meus amigos todos. Digo “tentado” porque os nomes não cabiam todos. Então, o que mudou?
As mudanças e a filtragem natural das amizades antigas
Fácil. O que mudou foi simplesmente o crescimento natural e, com ele, a capacidade de perceber que não faz sentido considerar amigo alguém que simplesmente é nosso conhecido ou com quem temos algo em comum. Crescer também é perceber que ter um interesse em comum com alguém não é sinónimo de sermos amigos ou sequer de ter química e cumplicidade com essa pessoa.
Recentemente, voltei a pensar neste assunto por causa deste post que li no A Beautiful Mess e fiz uma espécie de reavaliação involuntária das minhas amizades de agora. Pensei nas amizades que perdi ao longo dos anos e pensei nos porquês todos. Algumas perderam-se para as distâncias, outras para circunstâncias da vida e do crescimento que incluem aquilo que em inglês se chama de “grow apart“. Este grow apart significa simplesmente que a nossa evolução enquanto pessoas faz com que deixemos de nos identificar com algumas pessoas na nossa vida.
Isso não tem mal nenhum e é perfeitamente natural, mas às vezes também bate a saudade dos tempos em que éramos as melhores amigas e nos ríamos das coisas mais tolinhas e simples de que nos possamos lembrar. Sei que vocês sabem do que estou a falar.
Mas eu acredito que a mesma vida que nos afasta de algumas pessoas e filtra as nossas amizades, se encarrega de nos aproximar de outras pessoas com quem verdadeiramente nos identificamos como somos hoje em dia e não como éramos aos 12 anos, preenchendo assim os vazios que vão ficando.
As amizades que começam na blogosfera
No meu caso, o mundo online acabou por ditar algumas das minhas (grandes) amizades actuais e de me dar a conhecer outras pessoas que, embora não sejam minhas grandes amigas, são pessoas maravilhosas, que me inspiram todos os dias e que estou a conhecer aos bocadinhos.
Uma coisa muito boa em conhecer pessoas online (no meu caso, a partir da blogosfera) é o facto de encontrarmos facilmente outras pessoas com interesses parecidos com os nossos. É nunca nos faltar companhia para ir a eventos pelos quais os nossos outros amigos não se interessam, é ter uma rede de apoio nos nossos hobbies e interesses partilhados que também não interessam às outras pessoas na nossa vida, é aprender constantemente e a evoluir com os conhecimentos deles e eles com os nossos.
Às vezes, se tivermos sorte, é também ter ideias fantásticas e metermos-nos em aventuras e até negócios com pessoas que partilham a mesma visão que nós. Neste ponto, refiro-me – claro – a ter uma Ana e uma Cat com quem partilhei as dores de parto e de crescimento do Bloggers Camp e que continuarei a partilhar durante muito, muito tempo enquanto ajudamos o nosso bebé a crescer. 🙂
E ainda que tenhamos sido nós a organizar o Bloggers Camp, retirei tanto dele como qualquer participante que lá tenha estado no ano passado. Fiz amizades novas e conheci pessoas incríveis com quem já partilhei momentos muito bons e com quem tenho imenso em comum.
Para além do Bloggers Camp, tenho participado noutras iniciativas ligadas à blogosfera e até ao Instagram e tenho conhecido cada vez mais pessoas. Nunca na vida conheci tantas pessoas interessantes em tão pouco tempo e não podia estar mais feliz com isso. 🙂
E vocês? Têm amigos que conheceram por intermédio dos blogs ou das redes sociais? Consideram que se podem fazer amizades verdadeiras online? Porquê/porque não?
14 Comments
Joana Sousa
14/04/2016 at 11:50 AMOlha, nem a calhar com o post que publiquei há pouco! As amizades vão e vêem – há sempre um núcleo duro que fica mas mesmo esse vai sofrendo mudanças mesmo nas relações internas…e depois há as pessoas que aparecem de uma forma que nós não contávamos (e com isto refiro-me à blogosfera) e pimbas, de repente dás por ti rodeada de gente que te parece a companhia perfeita! 😀 Acho que a partilha de interesses é essencial aqui. Chegas a uma idade em que já não é suficiente o “porque estamos sempre juntas”, tem que haver mais do que isso. E isso é que cria amizades a sério!
Jiji
Raquel
14/04/2016 at 1:40 PMGraças à blogosfera conheci a Ritinha, que é das pessoas mais fantásticas de sempre. Não falamos todos os dias e desde que nos conhecemos pessoalmente só voltámos a estar juntas uma ou duas vezes, mas dou por mim a pensar nela quando vejo algum concurso de design ou algo relacionado com multimédia e partilho sempre com elas as minhas descobertas. Ela vai sabendo da minha vida aos poucos e eu da dela e quando acabou a licenciatura o ano passado tive o prazer de lhe escrever uma fita e este ano será a vez dela de escrever a minha. Mas acho que é a única pessoa com quem criei uma ligação especial, parecida com a que tenho com alguns amigos meus que não preciso de ver nem de falar todos os dias para me lembrar deles ou para saber que se precisar eles estão lá para mim como eu estou para eles.
À parte isso, cada vez acho mais que é impossível ter muitos amigos (no verdadeiro sentido da palavra). Conheço muitas pessoas, dou-me bem com muitas pessoas, gosto de muitas pessoas, mas sei que não sou verdadeiramente amiga de todas essas pessoas. Mesmo na faculdade, acabei por crescer afastada do meu grupo inicial, do qual continuo a gostar muito, mas a minha relação com eles não é igual à minha relação com a Sónia, com quem partilho quarto e basicamente toda a minha vida, ou com a Andreia, a Serra e a Rita (e mesmo assim sei que, eventualmente, crescerei afastadas destas três, porque temos interesses e objetivos cada vez mais diferentes). Os meus amigos do Algarve são outra coisa, porque apesar de só a minha melhor amiga estar comigo há muito mais do que 10 anos, os rapazes já fazem parte de mim e imagino-me a ser tia num futuro que ainda está longíquo mas que vejo claramente a acontecer. Este sentimento também acontece quando penso nos gémeos e no resto do grupo da residência e, neste caso, é muito engraçado, porque somos todos muito diferentes. Mas a nossa relação é já tão real que o futuro gestor do grupo já decidiu que um dia eles terão de me começar a fornecer mesada alternadamente (já que eu vou ser jornalista, isto é, obviamente a mais pobre). São estas pequenas projeções que me fazem acreditar que, se depender de nós, passaremos natais juntos quando formos todos (ou nos sentirmos) mais adultos.
Raquel
14/04/2016 at 1:42 PMP.S. Desculpa o testamento. Mas estas coisas das amizades tocam-me ahah
Daniela Soares
14/04/2016 at 3:09 PMNão posso dizer que tenha criado amizades, mas há uma ou outra blogger que já sigo há tanto tempo que já sinto como se a conhecesse e fico feliz com as suas vitórias e preocupada com alguma coisa que corra menos bem.
Tal como disse a Jiji, as amizades vão e vêm mas há sempre aquele grupinho que por muito que estejamos separados, quando nos encontramos fazemos a festa!:)
Joana Clara
14/04/2016 at 5:56 PMNem sabes como me revejo em cada frase deste texto. Adorei conhecer-te pessoalmente e a experiência que vivemos juntas no Bloggers Camp. (:
Marta Chan
15/04/2016 at 2:18 AMSinto-me exatamente da mesma forma 🙂 sempre que vou ao Algarve adoro estar com os amigos desde sempre mas a verdade é que nos últimos tempos tornou se difícil fazer actividades com eles. Normalmente porque os nossos interesses deixaram de ser os mesmos. Claro que as cafezadas e as jantaradas caseiras são bem vindas para matar saudades 🙂
Apercebi me disto há uns anos, quando a minha melhor amiga Ana mudou se para Amesterdao. Ela acompanhava me literalmente em tudo. Se por um lado estava feliz pela minha amiga estar a ter uma experiência maravilhosa noutro país, por outro o meu lado egoísta ficava ao rubro quando estava em Portugal e queria ir à um festival de música electrónica ou um workshop disto é daquilo.
Vir morar para Lisboa depois de cinco anos sem viver em lado nenhum foi o melhor que me podia ter acontecido neste momento. Estou a conhecer um mundo novo, uma cidade encantadora, pessoas que têm os mesmos interesses que eu e juntas divertimo-nos. Claro que estas incluída nestas pessoas <3 como já tinha dito antes, o facto de vos conhecer bloggers, facilitou e ainda facilita a minha vida na capital 🙂 *cai uma lágrima* lol
Maria
15/04/2016 at 8:24 PMTal como os nossos interesses que mudam ao longo dos anos, também as nossas amazidades vão-se modificando à medida que crescemos. Há sempre algumas pessoas que se mantêm ao nosso lado por mais anos que passem, ou por maiores que sejam as distâncias, está claro, mas talvez boa parte dos amigos que fazemos ao longo da vida, especialmente quando somos mais novos e o conceito de “amigo” é demasiado vago, vão-se perdendo com o tempo. Acho que a passagem para a universidade, especialmente quando muitos de nós vão para sítios distintos e até distantes, é capaz de ser uma das alturas em que se perdem muitas “amizades”. Eu notei isso sobretudo em casos em que a ligação era quase o facto de nos vermos todos os dias na mesma turma. É triste irem-se perdendo amigos mas admito que é algo que não me afecta/incomoda muito, porque sei que os meus verdadeiros amigos têm estado sempre ao meu lado, desde que os conheço, e isso é que é importante para mim; mesmo com as vidas atarefas e distâncias entre nós.
Nota-se que há imensa gente – “nova” e “velha” – que se queixa do tempo que passamos na internet, vá nas redes sociais; que estamos demasiado tempo agarrados ao telemóvel e que os nossos amigos passaram de serem de pele e osso para serem “virtuais”. Até podem ter algum fundamento, mas eu cá descordo. Algumas das actuais minhas melhores amigas, conheci-as atrávez destas “malditas” redes sociais. E não podia estar mais feliz por isso. O mundo está tão global que não faz sentido estarmos limitados às quatro paredes das nossas terras natal, ou mesmo dos nossos países. Só tenho pena é de viver a distâncias financeiramente incomportáveis delas. Blogues e redes sociais têm algo fantástico acerca deles, e que pouca gente pensa nisso – a facilidade com que interagimos com pessoas com experiências e pontos de vista totalmente diferentes dos nossos, o que é tão ou mais enriquecedor que ler sobre a cultura do X ou Z num livro. E é uma das melhores e mais fantásticas maneiras de crescermos como pessoas, adultos e cidadãos de um mundo tão diverso como o nosso.
Helena Magalhães
17/04/2016 at 12:26 AMYep, completamente verdade. Quando somos mais novos, temos dezenas e dezenas de amigos e grupos diferentes de amigos. Lembro-me de ir para a praia e sermos aos grupos de 20 pessoas. De sairmos à noite quase em excursão. Mas hoje, quando olho para trás, não eram meus amigos. Eram meus conhecidos com quem me divertia. E é giro porque enquanto somos adolescentes, não vemos isso. Algumas das minhas amigas, hoje em dia já não o são exactamente pelo “grow apart” e isso é perfeitamente normal e saudável. Nós, seres humanos, estamos sempre em mutação, deixamos de nos identificar com algumas coisas e passamos a gostar de outras. À medida que crescemos, vamos encurtando cada vez mais a lista de amigos e os que temos são aqueles com quem temos sintonia de vida. Identifiquei-me em tudo com este post. E com as amizades blogosféricas também 🙂
Ana S.
17/04/2016 at 1:52 PMAinda não estou cá há tempo suficiente para fazer «amigos» ou, por outro lado, ainda não participei em eventos que proporcionassem isso, mas não me custa acreditar no que escreveste. Identifico-me com várias pessoas que encontro por aqui, perco-me com os seus cantinhos e experiências e tenho quase a certeza que teria muito que falar e partilhar com essas pessoas, com quem me identificaria por certo. É natural que as amizades mudem com o tempo e creio que o que mais influencia é a forma de se estar perante a vida – que ultrapassa a questão dos interesses específicos de cada um. Na blogosfera percebe-se com relativa facilidade quem tem interesses e formas de estar semelhantes, pelo que julgo que é completamente possível que surjam amizades através deste meio.
A vossa fotografia, ADOREI!
Aonde (não) estou
Mara Pickles
18/04/2016 at 6:24 PMÉ verdade que a adolescência tem tendência a camuflar essas nossas amizades e muitas das que pensava serem eternas acabaram no conhecido grow apart e outras que me pareciam de circunstância ainda por aqui andam, ao fim de muitos anos. Não é mau afastarmo-nos de alguém para dar lugar a outros que nos completem mais e hoje em dia, os meus amigos restringem-se a um grupo de 5 pessoas, para não dizer de apenas uma, com quem partilho tudo, suficiente em qualquer ocasião. Adorei o post e adorei a vossa foto no Bloggers Camp!
Lídia
13/05/2016 at 12:04 PMÉ importante encontrar a nossa tribo. Tão importante. 🙂
Sofia
10/10/2017 at 8:17 PMÉ super curioso este tema e concordo com tudo o que disseste! Também tenho pessoas que se tornaram minhas amigas por causa do blog/ instagram e encontrar pessoas com os mesmos interesses com quem possamos falar horas a fio é tão bom!
Beijinho
Os meus amigos: a grande manta de retalhos - Joan of July
16/07/2019 at 12:23 PM[…] de todos os meus trabalhos tenho pessoas queridas e amigas; da blogosfera então… nem se fala. Como já escrevi aqui, acho incrível este espaço e as ramificações do mesmo me terem trazido amizades reais e tão […]
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