De certeza que não será uma grande surpresa se vos disser que adoro a Feira do Livro. Sou amante das letras, tanto de escrevê-las como de lê-las, por isso não resisto a este evento que reúne tantos livros no mesmo espaço durante uma altura do ano que normalmente me deixa tão feliz (este ano nem tanto, porque sol, nem vê-lo). Mas, para mim, a Feira do Livro é mais do que uma desculpa para comprar livros. Tem vindo a ser palco de algumas das minhas memórias mais queridas que acabam por ficar gravadas nos livros que compro.
Isto significa que quando estou na Feira do Livro a passar por um momento marcante da minha vida, acabo por me recordar dele através dos livros que compro por lá. Há quem marque memórias com perfumes e sempre que os cheira recorda-se de alguém ou de algum momento que o marcou. Comigo isso também acontece, mas ainda mais com livros.
Eu explico.
1. Os Amores de Safo
A Feira do Livro do Porto – de onde sou, onde nasci e cresci – tanto acontece na Avenida dos Aliados como no Palácio de Cristal. Vai mudando, mas eu gosto é quando é no Palácio de Cristal. O sítio já de si é lindíssimo, então repleto de livros… é incomparável. Vou já confessar: gosto mais da Feira do Livro do Porto do que da de Lisboa, talvez por este detalhe de se realizar (a maioria das vezes) no Palácio de Cristal.
Quando andava no 11º ano fui à Feira com a minha mãe. Era uma época difícil com muitas hormonas e muita adolescência à mistura, mas se houve algo que não mudou em mim na transição de criança a adolescente foi o meu fascínio pela Antiguidade, pelos Mitos, Mitologia e pelas Lendas Celtas, Romanas, Escandinavas, Egípcias,… Então, houve um livro que me chamou a atenção: Os Amores de Safo, de Erica Jong. Mal sabia eu que aquele seria um dos livros que mais marcou a minha adolescência.
Lembro-me de, na escola antes de uma aula, me esconder numa casa de banho a lê-lo, tal era o meu vício por ele. Não que alguém me impedisse de ler na escola, mas estar com os meus colegas significaria falar e distrair-me, quando tudo o que eu queria era estar sozinha com o meu livro.
Hoje em dia este livro está no meu quarto, em casa da minha mãe, e eu não consigo evitar sorrir quando o vejo numa das minhas duas principais prateleiras com livros.
2. Casa nova, vida nova
No ano 2012 mudei-me com o meu namorado para a nossa primeira casa. Foi um período verdadeiramente encantador, de muito amor, entusiasmo e magia. Eu adorava a nossa pequena casinha, que – embora ainda não estivesse 100% acabada – já estava a ficar tão de encontro aos nossos gostos e estética.
Estávamos a viver lá há pouco tempo quando visitei a Feira do Livro pela primeira vez nesse ano. Tinha acabado de sair do trabalho e, como trabalhava no Marquês, decidi ir lá dar um saltinho antes de ir para casa.
Não me lembro bem do que comprei lá, se é que comprei alguma coisa dessa vez. Lembro-me, no entanto, que a seguir fui levantar o meu portátil que estava a ser arranjado algures no Saldanha e que, numa loja ao lado, comprei a primeira peça de decoração para a nossa casa: um candeeiro cuja base tinha chifres de veado esculpidos (parece mais bonito ao vivo do que descrito). Lembro-me de o ter comprado porque me fazia lembrar o Game of Thrones (quando a House Baratheon ainda era relevante) e de ir com ele para casa feliz da vida por viver com ele na nossa casinha de bonecas mais bonita de Lisboa.
3. “É para levar todos”
Entre 2012 e 2013 estive desempregada. Naquele que foi um período estranho, difícil e, ao mesmo tempo, interessante da minha vida, visitei – também em 2012* – a Feira do Livro de Lisboa com o meu namorado. Até aqui, tudo normal, como já tinha sido noutros anos. O que marcou esta Feira do Livro para mim foi o facto de, quando estávamos na banca da Saída de Emergência, eu decidir que só ia comprar um livro do Game of Thrones (já tinha lido os dois ou três primeiros). Ele perguntou: “porque não levas os outros seguintes? Pelo preço, compensa”. Lembrei-o de que estava desempregada e que era um investimento que não seria muito responsável da minha parte naquele momento.
Ele pediu para levar todos e ofereceu-mos. Naquele momento apeteceu-me soltar uma lagriminha, talvez por ter sido a coisa mais querida que alguém fez por mim. Lembro-me de todos os livros que ele já me ofereceu. Aliás, nunca esqueço livros que me são oferecidos como prenda. Marcam-me mais que qualquer coisa coisa que me possam dar nesta vida.
4. “Mais vale um pássaro na mão…
Na Primavera de 2013 tinha duas ofertas de trabalho. Uma aceitei, a outra recusei. O destino pregou-me uma partida e, afinal, já não me quiseram. Contrataram um estagiário ao qual não iam ter que pagar. E eu… fiquei novamente sem nada.
Fui para a Feira do Livro curar a mágoa. Nada que os livros não resolvam. Nesse ano comprei o Baba Yaga Pôs um Ovo.
Apesar da memória não ser das mais felizes, dou imenso valor à aprendizagem que fiz por ter estado sujeita a essa escolha difícil e de ter perdido qualquer das opções. A memória ficou gravada enquanto passeava na Feira do Feiro debaixo do delicioso sol de Maio que parece dar esperança de que tudo vai – afinal – ficar bem e que outras coisas surgirão. E surgiram.
5. A sabedoria do Cosmos?
Em 2015 (se não me engano) um senhor aparentemente sem-abrigo deu comigo sentada num banco com o meu namorado e um amigo nosso, que tomavam café numa pausa merecida. Não sei como é que a coisa escalou, mas o senhor tomou a minha mão nas suas em género de sandwish a divagar sobre o Cosmos, o Universo, a origem da vida,… Foi absolutamente bizarro. Lembro-me que tinha comprado um livro de receitas da Mafalda Pinto Leite.
6. O meu livro na Feira pela primeira vez
Como esquecer? No ano passado – 2017 – fui à Feira do Livro do Porto com a minha mãe na véspera de fotografar um casamento sozinha. Estava entusiasmada pelo invulgar dia de trabalho que me esperava no dia seguinte, um domingo, o dia do tal casamento, mas a aproveitar aquele sábado descansado com a minha mãe. Para além dela me ter oferecido uma gravura vintage que vimos num alfarrabista e que faz parte agora do meu quarto actual, comprei o livro completo de contos da Beatrix Potter. O meu livro estava lá, no stand da Alêtheia. Foi a primeira vez que o vi numa Feira do Livro. Durante anos foi um sonho meu e agora ali estava ele. Incrível.
* eu faço várias visitas à Feira do Livro em cada edição.
Percebem agora porque associo tanto as memórias à Feira do Livro? 🙂 Agora, ir lá não só me ajuda a criar novas memórias como a reviver estas e outras mais antigas. É um processo nostálgico, mas delicioso. Será que vou ter novas memórias deste ano? 🙂
Mais alguém sente o mesmo em relação à Feira do Livro? Nunca é tarde para começar a criar memórias por lá! Até dia 13 de Junho ainda podem visitá-la as vezes que quiserem!
1 Comment
Palavra-padrão
10/06/2018 at 11:06 AMQue post mais maravilhoso, fiquei presa do início ao fim!
Confesso que não tenho o hábito de visitar feiras do livro (!!!!) porque me sinto demasiado pressionada a ver as coisas sem tempo para refletir… como tenho tantos interesses, e são tantos livros, a dada altura sinto-me esmagada de informação e acabo por não levar nada! É uma sensação difícil de descrever, mas acho que prefiro ir a um alfarrabista e poder demorar-me o tempo que quiser por lá, normalmente sem companhia, para poder perder tempos infinitos lá dentro a ler as sinopses hehe 🙂
Mas fiquei tocada com as tuas experiências, sobretudo com a ligação engraçada entre a ida à feira e a relação com momentos específicos da tua vida!
Beijinhos grandes, minha querida!
Daniela
Palavra-padrão