Recentemente, tive esta revelação: parte da minha identidade passa pela escrita e, em particular, pela escrita neste blog. A falta de tempo livre e de motivação (sejamos sinceros) tem-me afastado de vir aqui escrever o que me vai na alma, tal como fazia nos “bons velhos tempos”. Chegou a altura. Quando sinto que está na altura de escrever e sinto a inspiração, nada me pode parar.
Tenho andado a sentir vontade de escrever sobre este tema, sobre os lugares que consideramos nossos, de tal forma que começam também eles a fazer parte de nós. A origem desta reflexão veio, também ela, de uma epifania: que sou mais apegada a lugares do que a algumas pessoas. Há lugares que nos fazem sentir seguros e há pessoas que não. Os lugares que são de todos fazem-nos, muitas vezes, sentir em casa, mesmo quando – por alguma razão – perdemos a nossa.
E é isso que sinto em relação à Quinta das Conchas.
A Quinta das Conchas foi uma das minhas casas durante quase 12 anos. Durante esse tempo todo vivi ao pé deste lugar maravilhoso. Sempre vi nele uma espécie de oásis no meio da cidade; um sítio para onde podia ir descomprimir e refugiar-me na Natureza sempre que precisava (e eram muitas vezes!).
Já a conheço de cor e sei para onde ir, lá dentro, para escapar da visão de prédios e estradas e muros de betão.
Há zonas, dentro da Quinta das Conchas, onde só vemos os topos das árvores e a vegetação típica de cada estação do ano, dependendo da altura.
Há zonas em que ouvimos melhor os pássaros e menos os aviões e os carros. Lugares e lugarejos entre as árvores em que troncos despidos se tornam bancos naturais e a paisagem envolvente substitui os nossos ecrãs. Por sua vez, o canto das aves substitui a nossa música barulhenta.
Era isso que procurava neste refúgio ao lado de três casas em que habitei nesses quase 12 anos.
Mas quase tudo tem um fim e, no ano passado, mudei de casa, de vida (se quiserem, podem ler sobre isso tudo aqui) e vi-me “obrigada” a dizer adeus a esta proximidade ao meu refúgio mágico que foi palco de tantos dos meus momentos a sós e entre amigos, em festas de aniversário minhas e de outros e da celebração dos 10 anos do Joan of July. São momentos que vou guardar para sempre no coração. Claro que posso sempre voltar (e já o fiz) sempre que quiser, mas a proximidade geográfica já não é a mesma.
Para mim, sempre foi importante – não – essencial encontrar refúgios na Natureza onde quer que viva e agora posso dizer que, após quase 7 meses a morar em Oeiras/Cascais, descobri finalmente o meu refúgio aqui na zona. Sempre continuei a ter, mas preciso de um a uma distância a pé de onde moro. É uma necessidade minha e que nunca desapareceu.
Finalmente, encontrei-o e é muito melhor do que aquilo que imaginava ao vê-lo de fora.
Vou deixar a revelação do meu novo lugar especial para outro post, porque acho mesmo que merece todo esse destaque.
O objetivo não é fazer comparações, mas sim celebrar o facto de sentir que tenho uma nova casa também num cenário mais natural. Eu sou assim; preciso dessas coisas para viver de forma feliz. Sem refúgios naturais, não me sinto completa.
Aos poucos, vou sentindo mais e mais partes de mim a reconstruir um novo normal que nada tem a ver com Covid. Só falta voltar a fotografar como fazia antes e a escrever ficção!
1 Comment
Ana Garcês
18/05/2021 at 2:30 PMSempre senti essa relação especial que tinhas com a Quinta das Conchas mas é tão, mas tão bom ver a felicidade com que tu chegaste a casa quando descobriste essa nova “casa-natural” aqui tão perto!
E és como eu. Acho que parte da minha essência passa por escrever e fotografar. E tenho negligenciado isso… por vários motivos. Tenho de fazer um esforço para não me perder!
PS. Saudades da minha camisa das raposinhas!