Esta minha receita do Páginas Salteadas já vem atrasada, mas ainda a tempo. Para este desfecho de ano, eu, a Joana, a Vânia e a Andreia decidimos encerrar o ano com uma receita inspirada no livro de Carlos Ruiz Zafón, “A Sombra do Vento”. Era suposto ter feito a receita em Novembro, pois agora, em Dezembro, seria um mês “livre” de Páginas Salteadas para mais facilmente regressarmos em força no início de 2019. Mas eu ainda andava à procura da inspiração para este receita e eis que, um dia, ela simplesmente veio e, com ela, uma das receitas mais deliciosas que já fiz para este projecto.
O livro: A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Záfon
“Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o cemitério dos Livros Esquecidos. Desfiavam-se os primeiros dias do Verão de 1945 e caminhávamos pelas ruas de uma Barcelona apanhada sob céus de cinza e um sol de vapor que se derramava sobre a Rambla de Santa Mónica numa grinalda de cobre líquido.
– Não podes contar a ninguém aquilo que vais ver hoje, Daniel – advertiu o meu pai. – Nem ao teu amigo Tomás. A ninguém.”
Um livro assim é difícil de pousar, é magnético, encantador, transportador para outro universo quase, mas certamente uma forte recordação do poder dos livros e da sua magia. Quando me ofereceram este livro eu tinha 19 anos, estava de férias da faculdade e, em pouquíssimos dias, cheguei a metade. Depois, tive que voltar para a faculdade e, algures, perdi-me nos afazeres da vida de estudante, em novos livros que tinha que ler por obrigação e o A Sombra do Vento ficou para trás, nunca tendo acabado de o ler.
Agora, eis que nos voltamos a encontrar para o projecto Páginas Salteadas, ao qual estou grata pelo empurrãozinho para terminar – finalmente – este livro.
Reflecti sobre se iria ler a partir de onde o marcador indicava que eu tinha ficado ou se, por outro lado, iria recomeçar do zero. Decidi-me por esta última opção. Por mais que me lembre do que ficou para trás, a forma como penso nas coisas e as interpreto é, hoje, muito diferente.
A receita
Esta foi a receita mais difícil de idealizar, para mim, em todo este projecto Páginas Salteadas. Não sei porquê, na verdade, e apenas sabia que iria ter canela, pois, no livro, há várias referências a esta especiaria deliciosa como quando a rapariga cega, Clara, tocou o rosto de Daniel pela primeira vez e os seus dedos cheiravam a canela. Também há uma parte em que Daniel gaba os bolos de canela de Bernarda, a criada da casa de Clara.
Sabendo que o ingrediente-estrela seria a canela, pensei automaticamente em bolachas, mas como é algo que até costumo fazer cá em casa, queria mesmo tentar fazer algo diferente.
E então lembrei-me de uma tarde, que tão bem sabe – quentinha – em tardes de Outono/Inverno.
Esta é de creme inglês custard e canela, claro.
Massa: ingredientes e preparação
Eu fiz na Bimby para ser mas fácil e, tendo esta facilidade, não se justifica mesmo comprar massa quebrada no supermercado. Eu ia comprar quando fui às compras, mas esqueci-me e ainda bem! É facílima de fazer na Bimby. Bem, é sempre fácil, mas é mais chato quando tem que se amassar com as mãos.
- 300 g farinha
- 130 g manteiga
- 70 g água
- 0.5 c. chá de sal
- 0.5 c. chá de açúcar
- Coloquem no copo a farinha, a manteiga, a água, o sal, e o açúcar e batam 15 seg/vel 6.
- Estendam a massa com a ajuda de um rolo e forrem uma tarteira.
Recheio: ingredientes e preparação
Para o recheio fiz um tradicional creme custard inglês e juntei canela para lhe dar um paladar mais quentinho e delicioso.
- 1/2 litro de leite
- 2 1/2 colheres sopa de farinha custard* em pó
- 3 colheres sopa açúcar
- 1 casca de limão
- 30 g de manteiga
- 1 pau de canela
- canela em pó a gosto
* eu não tinha nem encontrei farinha custard no meu mini Pingo Doce ao pé de casa, então remediei com farinha Maizena e açúcar baunilhado (também não havia essência de baunilha), pois a farinha custard já vem com este saborzinho leve a baunilha. O açúcar baunilhado funcionou na perfeição; ficou a saber a creme custard verdadeiro! A única diferença foi ficar mais branco do que amarelo, devido à farinha Maizena e não custard.
Preparação do creme:
Coloquem todos os ingredientes no copo, excepto o pau de canela e a casca de limão, programem 30 seg, velocidade 4.
Juntem a casca de limão e o pau de canela 8 min, temp. 90º, velocidade 2 1/2.
Terminado o tempo deitem na tarteira forrada com a massa e levem ao forno.
No final, polvilhem a vossa tarde com canela em pó e já está!
Ficou tão, mas tão boa… só queria que pudessem provar. 😀
Esta receita encerra este ano de Páginas Salteadas, o ano em que este projecto tão querido celebrou o seu primeiro ano de existência. Voltamos em 2019 com mais livros e mais receitas, mas – até lá – podem espreitar o resto das receitas deste ano:
- Janeiro – A felicidade nas pequenas coisas e o abandono da perfeição
- Fevereiro – Um pequeno-almoço grab & go para trabalhadores atarefados
- Março – Mousse vegan descomplicada (2 ingredientes)
- Abril – Um bolo delicado e forte com cappuccino e mascarpone
- Maio – Um pequeno-almoço fresco como o amor juvenil
- Junho – Picolé tropical de skyr e açaí
- Julho – A celebração do primeiro ano de Páginas Salteadas com cariz solidário
- Agosto – Chá das cinco com o Principezinho
- Setembro – Tempo de recordar Madrid em Marrocos
- Outubro – O início de um jantar num típico bairro de nápoles
- Novembro – é a receita deste post!
- Dezembro – pausa de Natal
E agora, é hora de ir recordar as receitas das minhas parceiras!
Joana Clara, Às Cavalitas do Vento
Vânia Duarte, Lolly Taste
Andreia Moita, Andreia Moita Blog
3 Comments
Daniela Soares
17/12/2018 at 8:42 PMMais uma boa sugestão e uma tarte com um aspecto maravilhoso, quase que dá para sentir o cheiro da canela.:p
Another Lovely Blog!, https://letrad.blogspot.com/
Andreia Moita
20/12/2018 at 9:45 PMPerfeita alusão ao livro, Catarina. A canela e a cor dessas fotografias levam-me imediatamente para a Barcelona de Daniel e para aquele cantinho especial que me ficou no coração que era a livraria do senhor Sempere.
Vânia Duarte
21/12/2018 at 6:00 PMsocorro isto está com um ar absolutamente pecaminoso, quero muito fazer esta tarte 🙂 a ver se ganho vergonha na cara para publicar a minha receita 🙂