No início deste ano dei por mim na Fnac do Chiado a escolher um caderno. Durante uma hora. Não podia ser um caderno qualquer, tinha que ser um que eu sentisse como especial. Sem demasiada bonecada, sem linhas, sem quadrados, mas não liso. Descobri o dotted paper (com pontinhos) e foi amor à primeira vista. E este foi o dia em que também comecei uma bonita história de amor com os cadernos Leuchtturm1917. Nesse dia, recomecei verdadeiramente a minha prática de journaling.
Em criança e adolescente, enchei três diários com histórias, dúvidas e dramas, mas com o passar dos anos passei a escrever em cadernos menos “especiais” até abandonar a prática por completo. Em 2003 criei o meu primeiro blog (o Joan of July veio em 2008) e isso substituiu um bocado o meu desejo de escrever só para mim. Os comentários e interacções eram viciantes e envolventes; pela primeira vez obtinha feedback àquilo que escrevia.
Passando onze anos à frente, também no início deste ano comecei a questionar-me sobre o porquê de fazermos as coisas que fazemos, nomeadamente se temos realmente que monetizar, publicar ou expor tudo aquilo que produzimos. Porque é que já não fazemos praticamente nada só porque gostamos?
Cito novamente o Austin Kleon, autor dos livros ‘Steal Like An Artist’, ‘Show Your Work’ e ‘Keep Going’:
“We used to have hobbies; now we have “side hustles”. […] the free-time activities that used to soothe us and take our minds off work and add meaning to our lives are now presented to us as potential income streams, or ways out of having a traditional job.”
O que é que isto tem a ver com o journaling? Tudo. Praticar journaling é escrever só para nós. Porque gostamos, porque queremos, porque nos ajuda a reflectir, a desabafar a equilibrar a mente.
O papel do Journaling na minha recuperação
Esta semana fez dois meses desde o meu acidente. Dois meses em que tenho saído raramente. Achei que iria dar em louca rápido e facilmente, mas ainda não aconteceu e sei que, em grande parte, devo-o ao journaling.
Para além de minhas “ouvintes”, as páginas do meu caderno Leuchtturm1917 foram também:
- um espaço para planear um projecto/desafio para 2020;
- um espaço de motivação através das minhas próprias palavras (já explico mais baixo) e do registo das minhas citações favoritas;
- um espaço para delinear metas e anotar desejos para o próximo ano.
A combinação destas três coisas tem-me ajudado a manter uma visão positiva e a ver a “luz ao fundo do túnel” desta recuperação. Têm que perceber que estes dois meses sem poder andar e quase sem sair me fazem sentir que já passou quase um ano.
Fazer planos para o futuro e anotar todas as pequenas vitórias desta recuperação tem-me ajudado muito a manter este optimismo.
E é precisamente por isso que não posso deixar de elogiar os benefícios do Positive Journaling.
O Positive Journaling
O que é isto do Positive Journaling? Não há grande mistério, o nome já diz tudo!
O journaling não serve apenas para libertarmos as nossas frustrações para uma página. Na verdade, quando escrevemos desta forma tão intimista em que o leitor e o escritor são a mesma pessoa (nós próprios), deveríamos também cultivar sentimentos e palavras positivas no papel. Deixá-los espelhar-se nas nossas vidas e revisitar as páginas escritas sempre que estivermos a precisar de um boost de optimismo e de motivação.
Este é o poder da palavra. Ao usarmos palavras positivas, criamos sentimentos positivos e é-nos mais fácil (e natural) vermos a vida por um prisma de optimismo.
Mas como nem todos os dias são bons e ninguém é perfeito, os dias maus também são uma realidade. Nesses dias, no meu (Positive) Journaling, não me inibo de escrever sobre o que me atormenta, mas nunca acabo sem dar um twist positivo ao texto, normalmente sob a forma de “algo que aprendi” ou “algo positivo” que consegui retirar da situação em questão.
Por exemplo, do meu acidente e destes meses em que tenho estado “de molho”, consigo retirar o reforço deste meu hobbie (o journaling) e o nascimento do meu novo projecto para 2020. 🙂
Por falar nisso, estou quase quase a falar-vos sobre ele!
7 Comments
2019: o melhor do ano em séries, música e vida em geral - Joan of July
14/01/2020 at 10:29 AM[…] O regresso em grande ao journaling […]
Blume Journaling: o novo desafio de escrita para 2020 (journaling.pt) - Joan of July
06/04/2020 at 10:39 AM[…] O poderoso papel do Journaling na minha recuperação […]
Carolayne Ramos
26/05/2020 at 6:56 PMDou uso aos diários desde que me recordo, no entanto, só desde 31 de Julho de 2019, é que tenho escrito todos os dias, sem filtros, e praticando um tom mais positivo, em relação à pessoa que eu costumava ser. Como dizes, ninguém é perfeito e é natural existirem dias menos bons, mas até nesses momentos, somos capazes de extrair algum aprendizado positivo. Eu remato todos os meus desabafos, meditações, ideias, com um conjunto de afirmações que me façam sentido no momento, repetindo umas três, ao longo dos dias.
Sei-me muito mais minha amiga, muito mais parceira e entendedora dos meus problemas, tal como me sinto mais apta para confrontar e resolver as minhas questões. Compreendo o receio de muitos quando confrontados com a possibilidade de terem de olhar para dentro, no entanto, só assim é que evoluímos. E sabe maravilhosamente criar esse vínculo connosco mesmos!
Beijinhos! ♥
vanessa
12/08/2020 at 3:21 PMOlá!
Espero que já esteja bem, do lado de cá tudo está bem.
Gostei muito de ter um caderno para colocar os sentimentos, também tenho um e sempre, desde que me entendo por gente ganhava diários quando criança.
Beijocas.
http://www.parafraseandocomvanessa.com.br
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22/06/2022 at 12:32 PM[…] minha vida pessoal no blog? O journaling. Sim, acho mesmo que grande parte da culpa reside na minha prática e journaling. A razão é simples: quando estou mesmo a precisar de escrever, escrevo tudo e sem filtros por […]
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