Pergunta dificílima esta. Tomem um disclaimer logo no início: nem eu sei a resposta. No entanto, posso dizer-vos como foi/está a ser para mim. Spoiler: o meu “normal”, afinal, é capaz de nem existir e nada tem a ver com a pandemia.
Entre o final de 2019 e o início de 2020 caíram-me várias bombas em cima. Chamem-me Catarina Hiroshima, porque fiquei absolutamente devastada. Primeiro, foi o acidente que me deixou a viver com dor e sem poder andar durante mais de dois meses. Passei por duas cirurgias, por uma baixa e uma vida em stand-by. Pelo menos foi o que senti.
Estou basicamente em teletrabalho desde Outubro de 2019. Tive alta para voltar a ir para o trabalho no final de Fevereiro, o que coincidiu com o início do COVID-19 por terras lusas. Ou seja, só cheguei a ir um total de quatro semanas ao escritório, ao longo de todo o ano, por causa da pandemia.
O início do meu ano de caos: ADD (acidente, desgosto e divórcio, um trio delicioso)
Voltando atrás, ainda em 2019, dois meses depois do meu acidente, a minha relação de 15 anos chegou ao fim, 4 meses depois de casarmos e a dois dias do Natal.
A vida é engraçada: quando eu achava que o pior que me ia acontecer em 2019 era partir o tornozelo, eis que tudo o resto desaba. Uma separação destas não culmina apenas na perda de uma pessoa, mas de toda uma rede de pessoas, família por afinidade, do lugar a que chamava (e me sentia em) casa e de todos os planos que tinha para o futuro.
Depois do Natal e da passagem de ano mais deprimentes da minha vida, o início do ano não foi melhor. Foram tempos tristes, mas durante os quais aprendi muita coisa.
- Sinto as coisas de forma muito mais intensa do que a maioria das pessoas que conheço. Sofro como se o mundo fosse acabar para sempre, sou dramática, choro muito, mas deixem-me: é assim que lido com as coisas. Há muito que já aprendi que a melhor forma de lidar com o mal que me acontece é simplesmente permitir-me a sentir e a processar tudo.
- Por outro lado, aprendi que sou muito mais forte do que aquilo que pensava. Tenho uma capacidade regenerativa do caraças e consigo perfeitamente viver a minha vida sozinha, sustentada pela minha força e trabalho, se assim quiser.
- Descobri que sou capaz de amar intensamente, mas também que me desapaixono muito rapidamente se descobrir que alguém não merece esse sentimento da minha parte.
- Aprendi que sou capaz de me apaixonar perdidamente e de amar sem que as cicatrizes do passado interfiram com o presente.
Ui, que esta lista já vai longa. Tenho que guardar algumas descobertas de 2020 para os balanços de final do ano!
Posto isto, tenho a dizer que…
… estou muito, muito feliz que tudo isto tenha acontecido. De verdade. Doeu na altura, mas oh, se valeu a pena! Nunca sonhei ser tão feliz e sentir-me tão livre. Ah, e forte, isto é importante. 🙂
Mudanças de casa e perda de rotinas = repercussões na criatividade
Falei-vos da minha mudança de casa pós-divórcio aqui, mas não vos contei que não foi a primeira desse ano nem sequer a última. Vou guardar essa história para outro post.
Para o presente post, isto é relevante no sentido de vos explicar porque é que perdi o meu norte criativo. Todos os meus dias foram diferentes durante meses e meses. Atenção, não me posso queixar! Na verdade, o meu pensamento mais recorrente deste ano foi “nem acredito que é esta a minha vida agora”. No melhor sentido possível.
Nunca na minha vida adivinharia que, depois de tudo, me sentiria tão feliz, livre, espontânea, aventureira, forte e amada. E não troco nada disto por nada.
Porém, é claro que algumas coisas foram sacrificadas; por exemplo, muito raramente tinha tempo para me sentar a escrever ou a ler. Deixei um projecto pelo caminho e outro em stand-by. Não tem mal, aprendi que tudo tem o seu lugar e o seu tempo. Um desses projectos foi – finalmente – avançado agora, o meu Blume Journaling.
O melhor conselho que recebi este ano
2020 fez com que me desprendesse de muita coisa e de muita gente, o que, por sua vez, me fez dar valor a quem por cá continua. Aqui, falo de amizades. E foi precisamente de uma amiga que veio o melhor conselho que alguém me deu este ano:
Cat, não tentes fazer tudo. Passaste por um acidente, um divórcio, mudanças de casa e uma pandemia. Não podes pedir um milagre; conseguir fazer tudo, ser criativa, escrever um livro, lançar projectos e trabalhar.
Há que louvar o tough love dos meus amigos. Esta frase bateu-me bem fundo; reflecti nela e dei-lhe razão. Caramba, que mania a minha de não me dar tempo. Era normal que não estivesse normal e a minha capacidade criativa não estivesse a 100%!
Um novo normal (não relacionado com a pandemia)
Bem sei que o “novo normal” é uma expressão que se tem vindo a popularizar por causa da pandemia, mas na minha vida teve todo um outro significado. O meu “novo normal” não consistiu apenas em passar mais tempo em casa. Não. O meu novo normal consistiu em toda uma nova vida.
Agora, no final do ano, encontrei finalmente a minha casa, o meu lar, a minha nova família. Uma casa não é apenas um lugar onde habito. Para mim, casa é um sítio onde sinto que pertenço, onde existe amor (seja de que forma for) e sinto que existe uma equipa, uma família. E finalmente voltei a ter tudo isso.
Descobri, assim, que crio melhor e arrisco mais quando me sinto mais segura.
Finalmente ganhei a confiança e determinação que me estavam a faltar para avançar com o Blume Journaling e, mais recentemente, tive uma ideia fantástica para criar algo muito bom que quero lançar já em 2021. Em paralelo, quero voltar a fazer vídeos!
Se ainda andam por cá, digam-me: sobre o que gostariam que falasse nos meus vídeos?
9 Comments
Andreia Moita
10/12/2020 at 7:32 PMSó quero dizer que adoro esta “nova” Cat e estou muito feliz por ti. Geralmente, depois de um choque voltamos à tona mostrando outro lado de nós. Podia ser o pior lado até, seria legitimo, mas no teu caso é o teu melhor, olha só para ti… estás tão feliz! Que bom 🙂
Nos vídeos… hum…mostra toda a tua veia criativa e fora da caixa, toda a tua capacidade de inventar, de superar e principalmente de fazer coisas e lidar com elas. Ex: Fala de todos os projetos que já levaste a cabo (o teu primeiro negócio, o blog, o lançamento do livro) essas coisas inspiram e motivam! Vou adorar ver-te falar!
Um beijinho
Catarina Alves de Sousa
11/12/2020 at 4:56 PMOh, que comentário tão, mas tão bom, querida Andreia! E que feliz fico por saber que a minha alegria transparece nas minhas palavras.
Inspiraste-me com as tuas relativamente ao que posso mostrar em vídeo. Se acreditas que consigo falar sobre essas coisas, fico contente. E provavelmente vai acontecer. 😀
Carolayne Ramos
22/03/2021 at 2:02 PMA vida dá altas voltas, mas no final compensa sempre.
O conselho da tua amiga caiu bem até a mim.
De momento, estou a viver uma fase um tanto complicada, que envolve decisões, corações feridos, expectativas, enfim… E o exercício tem sido o de me dar tempo, o de me respeitar e, pelo meio, me redescobrir junto das minhas rotinas, objetivos, planos!
Custa agora. Bastante, até. Contudo, tenho esperanças quanto ao futuro!
Perante o teu relato, percebi que sim, vale a pena ter esperança, mesmo que pareça utópico. E que cada um tem o seu modo de lidar com as duas dores! Eu, portanto, não estou errada por me sentir assim, nem me deveria cobrar tanto.
Muito obrigada, Catarina! 🕊️
Beijinhos,
Lyne
Ana Rita Cortez
12/12/2020 at 2:01 AMHello 🙂
É por estas e por outras que acho que as pessoas reclamam demais da vida…
Que furacão de mulher tu és depois deste 2019/2020.
Um beijinho
Beijinho*
Os devaneios da Tim
13/12/2020 at 5:44 PMSó te tenho a dizer mas que grande mulher tu és. Que Guerreira 😀
Ana Rita Cortez
23/12/2020 at 10:53 PMHello 🙂
Não t conheço há muito tempo mas já há tempo suficiente para entender o quão mulherão tu és! PARABÉNS!
Que 2021 te traga um ano do caraças e te compense muuuuuito este 2020.
Beijinho*
Cynthia
04/01/2021 at 6:42 PMNossa, fiquei sem palavras ao ler esse seu testemunho. É uma verdadeira lição de vida e superaçao. Parabéns pela força que tens e lhe desejo somente coisas boas nesse ano de 2021. Grande beijo. : )
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